21 de novembro de 2012


carta de um silêncio

de um tempo que careci experimentar para compreender o que acontecera; em tão pouco um tão grandioso afeto. De um âmago por vezes tomado como pressuposto, mas não apenas, também como vinho que se sente o cheiro e o macio sabor. Sim, experimentar como única possibilidade de um sentir, de sentires.

no primeiro mês, daquele por onde o encontro estivera entre um arruinado cassino-hotel, em terras de mulher autônoma dada aos dias de hoje como referência cultural, de conquista e de prazeres erotizados politicamente. Desse mês e dos seguintes, estive no sentir, apenas no sentir.

passados, necessitou o universo inferir, não distante do sentir, muito antes, como um laboratório de explosão concluinte, ainda que se rogue não querer conclusões resolutivas, chegada uma compreensão, trazida por essa mesma que hoje ergue forças novas, essa sétima das artes.

não os captei na exatidão do momento por insuficientes experiências, era-me preciso ter sentido esse não dito, ainda que estivesse anunciado. Necessária foste, a umidade do olhar sentido, para compreender que em cada prato estava-te, recriando e reinventando o universo ao se dar no silêncio fecundo do que em você pulsava.

daquelas findas palavras que aguardei e que necessariamente jamais chegarão, vi o amor, nas palavras da arte, numa festa que formalmente não é a sua, mas a de Babette, que virtualmente a atualizaram na singularidade de ter vivido a alegria dos amores.

amores que amados no silêncio passam, embora não abdiquem jamais a leveza dos existires.

“um artista nunca é pobre... eu podia fazê-los felizes, dando o melhor de mim mesma. Por todo o mundo ressoa o grito do coração do artista. Deixem-me fazer tudo o que eu seja capaz.” [trecho do filme A festa de Babette]


Carol Gomes