22 de novembro de 2011

Dos sonhos

No rol dos sonhos preferentes, aquele de olhar para os lados e não sentir o brilho colorido da Vida sobreposto por um medo estranho do fora, vilmente, mascarado por nada. Sim! Querente a conseguir certa pretensa indiferença. Conflitante por ao contrário não gozar sucesso, disto, transbordos lacrimejados.

“O Mundo é feito por imbecis. A grande maioria se arrogando, na sua mais vã ignorância, de ser Douta... Os doutorzinhos que apregoam seus saberes excludentes dos demais... Os que riem do não sabido pelo medo de conhecimento... Os arrogantes que parecem defecar pela boca... Mas, o que me incomoda mais, é quando eles se portam como rebanho, todos no instinto de rebanho... Mas se quer sabem o que isso significa, nunca leram Nietzsche para entendê-lo, a sua não leitura e desconhecimento só servem para os Doutos se manterem na sua eterna fraqueza e ressentimento... Na inaplicabilidade de seus discursos... Porque eles não leem mais Machado de Assis, um bando de Medalhões.”
[Georgia Amitrano]

“É isso! Pobres imbecis! Não sabem fazer o caos dentro de si, porque a covardia é tamanha, pequenos não somente em estatura, insignificantes esses cordeiros do rebanho que os levam ao matadouro, jogados no fosso da indigência intelectual, quando pensavam ganhar o céu dos supostos doutos. Sem caos, nada de céu, nada de estrelas. Mas nós, querida Georgia! Carregamos o caos e vemos estrelas, ouso dizer com o poeta, ouvimos estrelas, não os imbecis.”
[Humberto Guido]

14 de novembro de 2011

O palhaço que chora sem lágrimas

'Taí' o filme tão falado do Selton Mello. Dois apontamentos:

 
i) Nossos hermanos argentinos operam com maestria a sétima arte quando o tema é a linha do equilibrista que vive a se perguntar 'o que sou?' ou 'o que estou?'.

ii) Sequestro a filmagem e a visto num tom estritamente pessoal para me valer da ida ao shopping lotado em véspera de feriado e não alimentar a sombra do aborrecimento com as produções nacionais.

Não! Não achei um bom filme. Achei-o sim, um filme 'sopa sessão da tarde', ainda que tenha rejeitado efeitos hollywoodianos e selecionado recortes-juntados num tom cinema sem 'peruagem' tecnológica.

Ainda que aprecie a atuação do Sr. Selton Mello, bem como a do Sr. Paulo José e as nobres aparições dos já quase mitológicos Moacyr Franco e Tonico Pereira, admito que continuo a aplaudir salivante as produções argentinas.. Ah se temos muito a aprender, se temos.

Pois bem, de todo não quero desmerecer a produção, não muito pelo tema da admirada atmosfera circense, antes, pela familiaridade com alguns elementos do roteiro.

Não bastasse as passagens pelas Minas Gerais, certamente me rancara um discreto sorriso quando escuto dos senhores palhaços Puro-Sangue e Panguaré, seus nomes de rabisco registrados em cartório: Valdermar e Benjamin, cujo sobrenome, Gomes. Isso... Valdemar Gomes e Benjamin Gomes. Para o meu deleite pessoal, roubei o filme por mera e dispensável identificação com o sobrenome.

Sim! Outros elementos, ainda que recortados e pinçados, se me mostraram com destaque. A maquiagem, belíssima... dos palhaços! A fotografia também, sobretudo explorando serras e serras das Minas, num verde de mata atlântica.

Um filme que não muito estoura, não mais que lança à referências outras...

Duas passagens interessantes das personagens.

Uma do Benjamin, palhaço Pangaré, refletindo como ventilador perdido em Montes Claros à frente de um bar; dando-se ao diálogo depressivo com a prostituta.

"Eu que sou palhaço faço todo mundo rir. E quem é que me faz sorrir?"

Outra do falecido empresário de tecidos, interpretado por Jackson Antunes, que se meteu com plantação de arroz e perdeu tudo, enquanto proseava com o Sr. Valdemar, palhaço Sangue-Puro.

"O gato bebe leite. O rato come queijo. E eu trabalho. Cada um faz o que sabe."

Ora, imediatamente fui jogada à composição do Nelson Cavaquinho, tantas vezes interpretadas, seja por Luiz Melodia, pela brilhante Dona Inah, Clara Nunes, Baden Powell e Leci Brandão, apenas alguns dos que lembro já ter ouvido.

enxugas as lágrimas
e me dê um abraço
e não te esqueças
que és um palhaço
faça a platéia gargalhar
um palhaço não deve chorar
[O Palhaço de Nelvon Cavaquinho]


Sobre o filme, quase nada a dizer... apenas remissões. Um filme que me chama pelos tantos fuscas que passam de uma cena a outra, quanto pela terra mineira... e ainda, pela maquiagem do palhaço que todos somos, que apesar de pintura em epiderme, adentra recônditos espaços, aparentemente incomunicáveis.

Como palhaços que somos, por vezes choramos sem lágrimas, sem saber que a continuidade nem sempre se dá por nós, mas em nós... nas seleções, nas esperas, nas passagens.

Carol Gomes

7 de novembro de 2011

Um sonho inverossímil

Chegou-se de um lugar desatualizado.
Unidades abertas distantes em espaço
embora
ponteadas em acontecimentos.

Esperou-se?
Não! Sem espera.
Na caminhada aprende-se que não há pontos de parada
há sim, múltiplas passadas, tensas, invasivamente fortes.

Também não se esperei.
Inúmeros soluços de tédio
entre um vacilo desmedido e outros
tendo por lados, abismos em grito desordenado pela vida.

As repetições já não mais seriam
como inferno a letra iniciava na mesma Lua
e o paraíso insistia em se abrir apenas nas Cheias
nas nem sempre boas aventuras...

Do cansaço nada esgotado
o ato não mais de bater nas portas
o cantar silencioso reaprendeu a sorrir
e o úmido passante revestia-se em bela aparência rabiscada.

Do castanho vidente ao castanho divagante
via-se noutro o que se sabia de outrora
de páginas soltas, voadas como borboletas e pardais, tantos!

Em sequenciais desenhos fugidios
o instante fez momento, onírico, bem certo...
embora em presença do caos, virtualizado
nada mais vital que um esvaecido sentimento maturado.

A recorrência do ponto chegou perguntativa:
E aquele presente quadrado seco & molhado?
que como buarquiando em miúdos
você levou, nem sempre ouvindo e não devolveu...

Como encontro, respirantes
virou-se as costas em retribuição às reminiscências
dos regressos virtuais, atualizou-se o possível
e na abertura dos olhos aquietou-se nas batidas do sino apolíneo.

Carol Gomes

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