21 de junho de 2016

A cinefilia uberlandense

Pasmem: Uberlândia, em 2016, tem 14 cineclubes em atividade com programação gratuita. Além das redes comerciais de exibição de filmes nos shoppings, a programação de cinema tem ocupado semanalmente anfiteatros e salas equipadas para os cinéfilos. O mês de junho marca o encerramento do CineClube Cultura cujas exibições acontecem aos sábados e domingos na Oficina Cultural há 30 anos. O motivo desse encerramento não desejado pelos cinéfilos é a aposentadoria do responsável pelo cineclube, Paulo Torres que, durante os 30 anos, se dedicou à curadoria da programação, bem como à organização das exibições e divulgação dos filmes.

Além do CineClube Cultura, há o CineClube UFU, CineSesc, CineMUnA, Ciclo de Cinema Argentino, Cinema Francês Allons au Cinéma, Conhecer Para Nunca Mais na Casa da Cultura, CineDALAU, CineCACOS, CineContracampo, EmCena, Cinema e Educação, Cine Filô, Cinemark Clássicos e outros projetos, sendo que as exibições acontecem com periodicidade semanal, quinzenal e mensal, com horários que vão da tarde à noite.

Um singelo rascunho mapeou a atuação dos cineclubes e de alguns projetos de exibição de filmes, sabendo que esse rascunho não inclui as escolas, universidades particulares, associações, sindicatos, ONGs e outras organizações que certamente também têm projetos de exibição de filmes. No mês de maio, foram quase 30 exibições de filmes nos cineclubes, filmes clássicos e modernos, internacionais e brasileiros. Dia 20/5, estive na sessão do CineClube UFU que exibiu o filme americano “Her” de 2014. Saí boaquiaberta da sessão pelo seguinte motivo: o anfiteatro que caberia algo entre 80 pessoas sentadas estava lotado e muitas sentaram no chão pelo corredor e à frente da primeira fileira.

Ora, a cinefilia imersa na própria história do cinema não abdica da sua participação no processo de urbanidade de um local enquanto prática de várias roupagens, em especial a roupagem dos que saem de casa e sentando ao lado de desconhecidos mergulham na diegese cinematográfica. Essa cinefilia do sair de casa é marcada pelo encontro anônimo, embora recorrente, entre os que se veem nas sessões dos filmes e que se quer se apresentam.Uma cinefilia que a cada filme pensa e repensa os modos de vida, das questões políticas às questões estéticas e técnicas dos filmes, de modo a reforçar o papel importante dos espaços de exibição de filmes numa cidade.

Uma cidade sem cinefilia é uma cidade que desconhece a relação arte x indústria, o quatrilho: imagem-tempo-movimento-som. Uma cidade órfã de cinefilia é uma cidade cujo roteiro foi castrado pela ignorância diante da grandeza de filmes que inclusive antecipam a mundanidade ordinária da vida, em outros termos leríamos ao vento: a vida imita a arte! Juízo bem conhecido dos cinéfilos, posto que diariamente se vê o quão a vida tem imitado filmes da tão recém-nascida sétima arte.

Uberlândia não é órfã de cinefilia, mas também não tem sido digna de uma cinefilia que vai resistindo sem incentivos financeiros e apoios públicos e privados. Aos que sempre dizem com peito cheio: Uberlândia não tem programação boa. Lamentável que não consigam perceber que a cinefilia é menos dos holofotes e mais dos resistentes, não por acaso uma sessão de filme tendo apenas um espectador acontece e ainda sim é uma sessão de cinema.

carol gomes
[texto publicado no Jornal Correios de Uberlândia em 14/jun/16 como opinião do leitor]
[http://www.correiodeuberlandia.com.br/colunas/opiniaodoleitor/a-cinefilia-uberlandense/]

20 de junho de 2016

a lua passa, a gente passa com ela... na rodovia tudo passa, das terras aos céus

tempo para nada, trabalha mais que formiga, mas vai lá, hoje o outono partiu e o inverno chegou, trazendo a estação dos leoninos e das luas cheias amarelas.

por sinal, andante na BR365 hoje quando do encontro do que estava indo (o outono) com o que estava vindo (o inverno), presenciei a lua cheia, a lua cheia desse entre outono-inverno, e de fato foi um portal tão soluçante que encostei o andante três vezes na beira da rodovia para tentar fotografar, mas sorrateiramente, impetuosamente, a lua não se deixou fotografar. Diversos fatores impossibilitaram, um conjunto, um misto afirmativo pelo não-fotografar, do equipamento impróprio, passando pela pouca luz natural à distância espacial entre chão e céu.

nessa hora veio à mente duas produções artísticas: uma literária do Murilo Rubião com sua "Bárbara" e a lua; e outra, poesia musicada do Nelson Cavaquinho com sua "A flor e o espinho".

dizia-me portanto hoje a lua, num diálogo tão próximo que se distanciava quanto mais eu acelerava para alcançar uma tríade ficcional: a lua, a estrada e eu.

Murilo colocou Bárbara fixada na lua e o Nelson me dizia que o Sol não podia viver perto da Lua... entendi tudo, a lua de hoje era amarela como um sol e portanto era portal porque era passagem sem jamais o ser, quanto mais eu desejasse a lua, menos próxima dela eu estaria... vai entender: sol e lua.

reflexões de uma 365 no cerrado mineiro!

Parte II
sabia que tinha um trem ontem. Sabia nada, moço! O dia foi mais curto porque o sol quis ficar de namorico com a lua que reinou magistralmente noite a dentro. Foi solstício de inverno. A lua ficou amarela porque o sol estava à espreita, corria atrás e não alcançava, igual cachorro pequeno quando vê cadela grande no cio, tadinhos, dela e dele.
o fato é que nessa labuta do sol pela lua, abriu-se um portal... quem estava adiante?! O inverno. Justamente. Esse que dizem trazer os casulos, as reflexões, os diálogos para dentro.

Enquanto o sol ficava de namorico com a lua, os fluxos passavam, aí estavam os tempos das mudanças, das aberturas e dos encontros.

Autoajuda?! Que nada, tem metáfora nenhuma nisso e nem calmante para desacelerar, é a vida mesma tecendo existência, objetivamente, sem demoras e sem pressas... num tempo que sei lá qual, só sei que o dia e a noite de ontem foram portais. Passando era mudança, atravessando é agora casulo. Ui!


carol gomes