4 de outubro de 2009

Repetição... disseram: Infernal!



Repetir. Aavançar. Repetir...


Olhar. Animar. Voltar. Repetir...


Disseram que repetição infernal talvez estivesse no trilhar, trilhar e retornar ao vazio. Pois assim me parece mais ao modo de Baudelaire descobrir a profundidade da existência ... 'no lugar da vida, o que resta é o local vazio por ela deixado ao afastar-se'


Repetir na exaustão...

Entre a Serprente e a Estrela
Paul Fraser / Terry Stafford - (versão Aldir Blanc)


Há um brilho de faca
Onde o amor vier
E ninguém tem o mapa
Da alma da mulher...


Ninguém sai
Com o coração sem sangrar
Ao tentar revelar
Um ser maravilhoso
Entre a Serpente
E a Estrela...


Um grande amor do passado
Se transforma em aversão
E os dois lado a lado
Corroem o coração...


Não existe saudade
Mais cortante
Que a de um
Grande amor ausente
Dura feito um diamante
Corta a ilusão da gente...


Toco a vida prá frente
Fingindo não sofrer
Mas o peito dormente
Espera um bem querer
E sei que não será surpresa
Se o futuro me trouxer
O passado de volta
Num semblante de mulher...


Enfim...


Dormir de Novo
Por Eduardo Arantes


Eu quero ver uma gota de chuva gigante cair do céu...
Eu quero romper o som da barreira
Eu quero ver um casamento... Saturno vestido com o terno de Urano
E a Terra oferecendo o dedo pra colocar seu anel


Eu quero que o mar olhe pra baixo e veja o céu...
quero que veja aquilo a que contempla no vertizonte
É o que mais tarde tornará profundo...


O céu de ponta cabeça pro mar
escurece um espelho moribundo
O viço é da lua vespertina


A noite é a mulher do mundo
As cobertas ao final da manhã
São só o abraço de quem me deixou dormindo sozinho...


Amanhã eu quero ir pra cama mais cedo...



Carol Gomes

2 de outubro de 2009

Tenho um senso apurado de irresponsabilidades
Não sei de tudo quase sempre quanto nunca

Manoel de Barros (Retrato do Artista quando Coisa – 1998)



Como eu poderia prever que toparia com uma criatura assim? Claro que não, tanto por não ser dada às previsões, ainda pela doçura do encontro com as palavras ‘manoelitas’...


Como ‘um passarinho me árvore’? Esse ‘passarinho me transgrediu para árvore ... ele mesmo me bosteia de dia e me desperta nas manhãs’. Depois dessa jamais um passarinho continuou a ser o que era, tanto mais as árvores que tomam forma de mim, assim não ridículo amar a árvore, ridículo sim ter na árvore ‘manoelita’ aquela habitual árvore. Não creio que esse poeta-pedra despreze a árvore do hábito, abismada fico na percepção de que ele tira outra árvore da própria árvore, sendo que uma nova e diferente, talvez tal como se tirou o fogo da árvore no atrito do aparente semelhante...


Como ser a 'irresponsabilidade'? Ah, não sentar no banquinho de madeira sem o ‘insossego’ de sentar em si mesmo. Puxa Manoel, fizeste do meu mundo o eterno movimento dos eus-outros, tanto para além do só humano, ou melhor, tanto por entre os não-humanos...


Como ‘vou deixando pedaços de mim no cisco’? Se assim, todos os ciscos me são e sou todo cisco, de modo que sou o todo e o todo me é. Loucura, o mundo me é. Por essa ficou devedor ao me enlouquecer. Vesti-me de árvore para chegar em você...


Como ‘Ilha Linguística’? Se não fosse a Rosa, que por instinto revestiu gravanha de espinhos, me dissesse que ‘sabedoria se tira das coisas que não existem’, na certa estaria eu ainda a ler suas páginas sem olhar para o mundo com olhos de quem busca ouvir o silêncio fotografado – o que não existe... será?
Carol Gomes

1 de outubro de 2009

A Sétima Cachoeira
por Eduardo Arantes
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Imagine as nuvens do fim de tarde escorrendo como aguadascachooeiras semanais...
No leito do riocéu inclinado, a chuva torrencial de fotopedaços do invisível cromolunar...

Ao cre-pús-culo, oorvalho suave
fluxo seu inverter cachoeiraafaria
E as gotas Drop Drop
partiriam-se em duas...
Neusa e Dina apenasdizem:
somos frag-men-tos...
Tusabes qual omelhorremédio...
vai-te em buscaagora...

Não precisarei mais enxugar minha face...
Pois os cabelos, corrediços da montanha, cingem os olhos da água-coresmeralda e limpam teu semblante na sétima cachoeira do ano...
Como nem mil guardanapos fariam...