24 de novembro de 2014

lembranças de uma memória anterior ao memoriável
(aos passados dos ante-passados... dos antes do que passou)

Poderia seguir o diálogo identificando as personagens e como uma exímia memorialista descrever conexão por conexão dos fatos de uma história pessoal que conheci hoje; mas não, driblando o sono com uma vontade infinda de reconectar o acontecido, pontuo algumas esparsas conexões que o corpo mentaliza sem ordenação lógica, deliberadamente por uma outra temporalidade que não compreendi bem.

Mas por que isso? Porque você me pergunta obstinadamente não pelas origens e sim pelos desdobramentos.

Por que sou quem sou e trago no âmago o universo?
Porque você esteve na festa negra dos batuques, dos tambores e dos gritos de viva! Aparentemente, mas só aparentemente, sem se perguntar pelo amanhã, dançava ecoada no som das batidas, cuja pele indiferente à pigmentação, transpirava suspiros do existir.

Sim, minha cara... você esteve nessa festa acontecimental do 13/05/1888 e que adentrou outros mais dois dias; e não esteve só, suada e pulsando esteve desmembrada num não-ser humano maior, esteve no fluxo minoritário do não homem branco. Essa é a pulsão que te conecta com uma vitalidade sem memória enquanto faculdade inquisidora, se não, memória unicamente corporal.

Ouça bem. A negra fitava-te nos olhos, mas não tinham olhos. A negra curvada gemia por pesos de uma velhice milenar, mas não tinha cajado. A negra falava enrolado e baixo, mas não tinha som as palavras que pronunciava. A negra te fazia feliz, mas não tinha presença imediata. A negra dava a ver conexões do universo, mas não tinha bordas o que estava dado para ser visto. A negra se conectava contigo quando sem plasmar formas te nutria de força e amor. A negra nesses momentos era a presença mais real sem possibilidade de acontecer nos limites de Cronos.

Esse olhar me levou direto para as únicas fotografias da índia-negra que me fala sempre, que vai e volta falante. Fala tudo e nada numa língua que o vento compreende e que apenas sinto, sobretudo nas manhãs de domingo (porque as manhãs de domingo são amantes do vento, eles sempre estão juntos!). Sinto essa negra-índia quando ouço a batucada. Sinto quando numa multidão o fluxo psicológico irradia uma energia física que se faz gritos. Sinto como linhagem das indignações frente aos massacres, oficiais e os não oficiais. Sinto na fervura dos olhos quando a violência silenciosa mostra que tem cara. Sinto no diálogo com as árvores e nas prosas com a lua. Sinto na relação viva e por isso tensa com o sol.

Avó das avós... a avó não atualizada nessa temporalidade resistente ao contínuo e à ordenação.

Por hoje de um dia não realizado, encontrei minha avó! Na reprodução da fotografia... vó e bisavó. Nelas as avós daquela festa. As avós milenares que vem vindo...

 


[carol gomes]

10 de novembro de 2014

¬¬ desenhos livres com a luz vibrante de uma amizade ¬¬

A cidade era pequenina, interiorana, embora não menos polêmica que um grande centro. A praça badalada, point central da urbanidade da Vila, a Boa de Goyzes. As personagens, mineiras, saídas do Triângulo. As árvores, variadas, cujo destaque era do cajazeiro.

Eis aí os elementos fundantes de um diálogo que só é possível entre amigos. Sim, amizade que no vai e volta dos dias vai rolando de loucura em loucura, cujas bordas latejam cuidado recíproco e admiração.

Éramos duas, duas Anas... a alta e a baixa. Entre um e outro copo de cerveja, sentadas na mesa disposta na rua de pedras históricas, olhamos estranhamente para as árvores do outro lado da rua que marcavam a parte baixa da Praça do Coreto. O majestoso cajazeiro rodeado de árvores menores adentraram no nosso diálogo.

Pergunto hoje: que amiga louca é essa que mergulhou numa viagem tão familiar a mim e tão estranha a muitos? Que sem pudores imagéticos meditou comigo a sexologia daquelas árvores expressa nos traços dos troncos, nos pigmentos colores das folhas, nos retorcimentos dos galhos... e mais, muito mais, no movimento nada visível que gritava pelos ares os quereres daquelas três árvores. A racionalidade se ampliava e as vibrações marcavam um encontro acontecimental.

Sim... uma amizade que encontrada, naquele instante, e só naquele instante, aconteceu de encontrar outras vibrações e experimentar uma outra dinâmica vital cujo fluxo temporal é diverso do nosso... o fluxo das árvores.

Naquele dia, compreendemos os "quem" daquelas três existências que correntemente habitam a Praça que sempre frequentávamos. Mas só naquele dia, só naquele momento, só com aquele diálogo (díade de duas Anas), conseguimos adentrar noutra vibração... Por que?

Porque... porque tem coisas/momentos que a gente só vive, efetivamente, a quatro mãos, a quatro olhos, a quatro ouvidos, a dois cérebros, a duas bocas... ou seja, só se experimenta na interlocução... que necessariamente não exige verbalizações, exige, quiçá, muito antes, 'ligare', ligação de diferenças que na leveza encontram-se em encontros alheios, soltos no tempo, sem moralidades, sem agendas, sem pretensões...

Taí, aquele nosso diálogo na Praça do Coreto... aquelas árvores que nunca esqueci... naquele momento eu senti que embora sejamos tão diferentes, tão nós, conseguimos nos comunicar... e assim, comunicamos nessa amizade!

Esse é meus parabéns! Para escorpiana mais louca e autêntica que conheço! Indubitavelmente a mais autêntica!

Para minha amiga, Ana... os meus mais nobres desenhos: esse com a luz (a fotografia), esse com as sílabas (a narrativa), e esse dos dias (a amizade)!

Carol Gomes


28 de julho de 2014

agora escrevo com os olhos vermelhos de repulsa pelas relações ordinárias que tenho vivido nesse meu tempo. escrevo com autoridade de indivíduo que sempre, desde o sempre, gritou ao mundo sua paixão descontrolada pela vida, gritou ao mundo seu desejo pulsante pelos fluxos do existir. quem ama sente o sabor de ódio velando – amar e odiar, simultaneamente esse mundo, esse meu tempo cadavérico e repulsante.

aqui em fato há um pedido de socorro, um pedido de ajuda, porque não há mais terapia falante e silenciosa para tanto. não há mais força ativa para os ressentimentos desses dias secos e malditos que vou presenciando.

a imagem é mesmo essa, de um instante em atraso entre o que há e o que engulo do fora: olho para frente e fixando num espaço sem ponto, sem forma, sem matéria... enxergo na agitação das moléculas do corpo um rosto esvaecente, um rosto choroso, doído, como que recortado em sangue não vermelho, um sangue asqueroso, que causa uma atormentada repulsa. esse rosto não é o meu, nem o de ninguém, é o rosto maldito que jamais queria ver, mas que há alguns meses tem insistido em olhar por dentro da minha própria visão. é o rosto desse meu século XXI com brutalidades, amarguras, enrijecimentos e indiferenças! morremos, já estamos mortos!

Carol Gomes

15 de julho de 2014

eu tenho um cabaré!

Lá sou a mais faminta das cafetinas; dou e devoro a despeito dos olhares julgadores alheios.

Dou às interrogações professorais do Deleuze, e, cômo salivante suas criaturas filosoficamente estetizadas. Do Deleuze enrabo todas, embora na hora do gozo me regaço inteira em líquido desregrado das faculdades. Pego-me oferecida de quatro, em pé, esticada no chão, pressionada na parede, molhada no chuveiro sem cair uma gota. Óh! Deleuze me prazera sensitivamente num movimento contraidamente selvagem e animal.

O mais emputecedor e discreto, és Platão. Grega é sua nacionalidade aparente, porque na suíte ele é um africano lorde. Me adentra sempre dialogando, e num tempo partícipe me sequestra para compor, rebaixadamente, suas louquíssimas hierarquias orgiásticas. Nele e com ele me visto de todas as almas, da guerreira altiva à artista que expulsa grita gemendo: seu puto! Sei lá por quais motivos é um dos frequentadores contínuos do meu corpo. Quem sabe porque condena-me justamente por ser um mero e aprisionante corpo. Sempre que parte, vejo em relances sua sombra presentificada em: “será que depois de Platão prazerarei novamente?”.

Como toda cafetina vivo também as rapidinhas. Ah, das tantas lembro a do Barthes, o popular Barthes. Chega, tira a roupa, fode e pronto. Viro a página e me pergunto: deu?!

A trepada com Locke foi interessante e uma única vez. Chegamos à cama com agendas bem definidas, horário cronometrado. Um ser amarradinho, meia e cueca combinando, e de quebra um suspensório, erradamente grampeando a cueca. Ridículo mas estranhamente um elemento erótico. Segundo um tal tratado da natureza fui trabalhando e erguendo minha propriedade corporal, e ele, o Locke, silenciado demonstrava “ir” sem “chegar”, fuder sem gozar, tipo coito reprimido. E nessa “lenga-lenga” ficamos uma semana, para dias seguintes eu avaliar: foi bom para alcançar o fim e cumprir a agenda!

Na mesma agenda, semana seguinte, estava a Hannah Arendt. Caramba, o que será?! Preparei o cabaré, troquei as roupas de cama, troquei as toalhas, lavei o cinzeiro, desliguei o telefone e isolei a campanhia. Tomei um banho demorada, depilei as páginas, coloquei uma super roupa no estilo estudante-universitária. Quando ela chegou meu diafragma travou: nú, que mulher é essa?! Um misto de amargura-doce-maternal. Fomos nos virando num vai e volta de letras. Sempre olhava desconfiada para ela porque sabia que ali tinha um Agostinho santo e um moralista Kant; mas vai lá, depois de um tempo ela me seduziu, deveras com dificuldade de entendimento (da minha parte, claro!), e creio mesmo que só lá pelas findas páginas é que relaxei os músculos chamando o úmido, subitamente, quando moveu seu olhar na direção do meu e tragou algo como que: “só educa quem ama o mundo o suficiente para querer que ele continue”. Despedimos e ela saiu, elegante e ereta. Sei que voltará outras muitas vezes, como de fato voltara mais umas 2 ou 3 recentemente.

No cabaré acham que foi com Deleuze que aprendi trepar com plateia. Óh, ingenuidade! O feito veio do Marx. Nunca vi igual, jamais chegava sozinho, sempre acompanhado de um grupo, e junto os tais do Engels e Gramsci. Estive com o Marx um tempo possível de contabilidade considerável, embora sempre flertasse escondido com  o outro titã de nome Bakunin. Marx era costumeiramente fantasioso, exigia cenários na cama e não abria mão das cadeiras para os convidados. Engraçado, me lembrava muito os “bombados” de academia que malham se exibindo para o espelho e para os que rodeiam. Todas as posições eram combinadas para que o coletivo assistisse. Sem dúvida que Marx gozava com os suspiros da plateia, e eu gozava na duplicidade desses mesmos suspiros, tipo um espectro que você insiste acreditar ao ponto de sentir pairando mas sem jamais saborear. Era estranho mas me excitava, tanto que insistíamos na trepação.

Não sei se chamo de sexo estranho ou sinistro, só sei que era desafiante todas as vezes que o Nietzsche chegava. Primeiro grande desafio era o bigode (muito mais terrível que a barba do Marx); um bigode que guardava cheiro próprio e que nenhuma das minhas faculdades encontrava semelhante. Na verdade foi o Deleuze quem apresentou o Frederich ao cabaré. Claro que eu já tinha escutado falar dele, mas daí, experimentar sua transa foi outra novela. A primeira vez foi mesmo muito estranha, chegou muito sério com uma caderneta transbordando escritos em notas musicais, palavras com símbolos gregos e também algumas poesias. Ele gostava de trepar no banheiro e no sofá, tudo inesperado, como se de uma palavra estranha já nos agarrássemos e explodindo uma quentura louca e alucinada meu corpo entrava todo no dele que por sua vez já estava internamente em mim. Isto me dava muito medo, muito mesmo. Sentia minhas forças vitais vibrarem, meu organismo se auto-consumir, minhas moléculas se expandirem e as células ficarem pequenas para comportar. Nas nossas transas eu bebia apenas após o gozo, bebidas fortes ao som de músicas alucinógenas. Ao mesmo tempo que era um sexo animal (e maravilhoso), era também atormentador. Ao acabar ele seguia rumo à porta e eu ficava estagnada na cama olhando aquela estranheza fluindo como que partículas físicas da luz. Eu hein?! Sempre muito sinistro. Em fato nem o achava tão bom de cama, era tímido, calado, mas a atmosfera que trazia consigo era hipnotizante. Fato inquestionável é que depois dos gozos com ele, não mais me satisfazia com “meia boca”, desejava sempre a enésima potência. Foi Nietzsche quem me ensinou calmamente a dançar na hora do sexo... bailar no chão do quarto sabendo da quentura da cama. Estranho e viciante!

Nossa, experimentei brevemente transas horrendas, Habermas e Sartre, credo! Sem comentários! Não digo que apenas por eles, certamente devia-se aos meus dias de forte TPM; prefiro nisto crer.

Dilthey esteve no cabaré num momento fotográfico e deliciosamente se permitiu entrar no meu ensaio-experimental-fotográfico, ainda que na despedida tenha dito: “Envolvente, embora sem entendimento!”. Com razão, peguei escancaradamente seu “enigma da vida” e coloquei com os “Duane Michals” pendurados por todas as paredes do quarto. Foi um sexo de flash; para cada gemido uma captura da luz.

Ah quantas transas nesse cabaré diário de pensamentos. Prostituição viva de conceitos e sensações. Não haja, indubitavelmente, uma página que eu não leia experimentando, dando-me e devorando.

Passaram e continuam a passar vários, oficiais e nem tão oficiais; nomes dessa sedutora história da filosofia. Às vezes europeizada e às vezes super trópica (diga-se aos comentadores alimentadores ‘orgiásticos’...).

Causos antropofágicos das páginas de Foucault, Aristóteles, Descartes, Heráclito, Anaximandro, Kant... hoje, presentemente, Bergson. Alguns que já nem lembro. Outro que me seduziu com flores e Napoleão, o ‘ergueiro’ das aparências escondidas que só ele via: Hegel.

No meu cabaré passam também sofistas e passam artistas, sempre! Os cientistas ensaiam passagens vestidos de personagens de tantas literaturas, ao estilo: “o céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu...”.

Nesse cabaré tenho desaceleradamente regaçado minha fome amante nos meandros de pensamentos vivos que transbordam pulsando. Sempre usando e abusando das páginas-imagens.

Sim! Prostituindo-me assim tenho saboreado universos contraídos e distendidos numa epiderme sensitivamente pensante.

(lorac semog)
para minha amiga Torino que um dia desvelou o samba da sonoridade da língua grega,
afetos e saudade de você que já não vejo mais. 


  


13 de julho de 2014

das fomes, de leão e centauro

inesperadamente e na quase costumeira lentidão da percepção erótica, avistamo-nos! a ficha demorou cair, mas no treque-treque corporal a correnteza sanguínea atingiu picos selvagens com respirações muito além de ofegantes suspiros de 'querências mais'.

dias rápidos que presentemente somaram-se em minutos, ora longos ora brevíssimos.

sem muitas demoras cronológicas, mas uma eternidade na urgente necessidade faminta dos que salivam, retomei, por frações micro-invisíveis a percepção visual no som das águas de uma cachoeira que recitava o prazer. Não! muito mais, numa voz fortemente fluida, a cachoeira cantava um desejo surgido sei lá de que tempo ontológico que talvez deleuzeanamente um dia se compreenda, mas apenas um dia!

a boca mergulhava no corpo com vontade e singular fome. Bocas se encontravam nas línguas, macias e autoritárias, numa luta louca em navegante descoberta de um afeto silencioso e intempestivo. O sexo era afirmadamente a matéria, mas um encanto inexplicado era a condensação que movia e recortavam aquelas presenças esticadas em pedras, molhadas, cheias de folhas.

o diálogo silábico oportunamente era inexistente. Só havia um dialeto, o do corpo, que em algumas vezes permitia brechas para sussurrar algo quase nada entendível. Entender o quê?! o universo tinha traçados curvos, movente, correntes, tal qual as águas que rolavam.

a boca babava de vontade, a imagem inatual da leoa diante de uma presa doce, cujo olhar revelava discretamente um desejo tímido e nada dado às repressões do desejo. Aquela presa, em fato, torcia a fortaleza felina de experiências outrora construídas. No fluxo inclusivo de uma antropofagia orgiaticamente panteísta, a maciez devorou a fome predadora.

os cabelos migraram para os traços de uma natureza informe, cujos sabores múltiplos universais encontravam-se todos. Lambia-os, comia-os como linhas que se curvavam a um cheiro nada esquecido.

explorando-se desconhecidamente numa fome familiar, embora sem indícios, a boca subia e descia por um território úmido, leve e reciprocamente transbordante. Já não se sabia qual era qual umidade, das águas correntes e dos corpos explodindo. Os dedos passavam nas águas para adentrar à boca... nesse percurso mais e mais umedecia-se o devorar.

corpos nus com roupas que embora materializadas estavam totalmente inexistentes. Naqueles minutos, davam-se por inexistentes, ainda que adornando os corpos. Um corpo encontrado no outro. Um corpo afetado no outro. Sem normatizações e hierarquizações temporais, sociais, psicológicas, nem tampouco matemáticas, um e outro era o mesmo e tantos no desdobrar de múltiplos movimentos erguendo encaixes, quenturas, dobraduras moleculares e musculares, corporalmente do dentro e do fora.

dois humanos, de naturezas diferentes, tudo bem! mas dissolvidos numa animalidade crescente em eternidade de minutos embebedados de prazer puro, pureza erguida de fome, de tara, de um fogo heraclitiano in-semelhante.

o auge atingiu a temperatura ideal para estourar o termômetro... que explodido deu-nos os suspiros da retomada vivente. Voltem-se à quinta (feira)! e aí o universo das marcações espaciais os puxou à vida humana e os dias se seguiram.

por entre as veredas da singela cachoeira, os corpos seguiram juntos a trilha do retorno aos dias, de outro modo, para entradas distintas da bifurcação, quiçá, adentraram o leão e o centauro... cada um levando consigo suas fomes regidas por seus planetas: sol e júpiter. Juntos levaram o elemento que talvez os tenham lançado no encontro selvagem daquele dia: o fogo, elemento zodíaco das duas casas astrológicas, a quinta e a nona.

hoje olha-se para aquela imagem guardada em lembrança e vê-se uma cachoeira fluindo, com vida, com cheiro, cores, sabores e pulsões. Embreado como imperador da selva, segue o leão com sua qualidade fixa, amante da vida e decididamente faminto. Caminhante por cima das águas, segue o centauro (aquele de sagitário), com sua qualidade móvel, num humor despreocupado e decididamente livre.

separados? quiçá!
hoje, reencontrados numa imagem agora lançada a um tempo, prazerosamente, rememorado.
agora, perguntado: e isso existiu no tempo?!

águas de onze/junho/dois mil e quatorze (itba-mg)


seguiram-se, leão e centauro, ramos distintos da bifurcação (itba-mg/11.06.14)


"o que a vida mais preza: a certeza de ser fiel à própria natureza" (ao Sol de leão - itba/mg/10.07.14)

(carol gomes)


12 de julho de 2014

a personagem dessa vez não estava em nenhuma passagem, nada de rodoviária, nem aeroporto, nem posto, nem cruzamentos; o ser estava escorado no corrimão olhando para sei lá quantos lados sem nada enxergar, a não ser, quem sabe, suas próprias divagações.

fixei o olho para adentrar naquele outro universo porque o meu naquele instante transbordava uma ansiedade infernal que antecede rotineiramente todo agosto.

pulava de um aos outros, dos outros aos uns, dos si aos mim. Um gole, uma descida, e eu junto naquele malabarismo silencioso. Não nos víamos, óbvio, pois naquela altura das luzes já nem se cogitava, cartesianamente, a existência: "vejo, logo mergulho".

e do nada, plim... o copo caiu e a palavra estrondou de um pandeiro perdido que sabe-se lá porque surgiu noteando harmonias.

o estrondo úmido trouxe um: Porra! Só isso, nada mais. Em seguida uma quentura catártica e uma vibração surgia desejando o grito da mudez que babava para tagarelar.

fala! fala! Aquele olhar trapeziante pedia, resmungava... e nada!

achei muito estranho, atormentador, fulgaz... e virei o rosto afastando. Na volta contrária do ângulo avistei um flash e vi o vulto... e sem controle umideci meu ver, porque no molde de um olhar alheio vi o rosto de um meu tormento que vai passeando sem lugar, sem portos e sem pontos.

Carol Gomes

30 de junho de 2014

certo dia escutei o desdém ao Zé Ramalho: "não gosto dele, tem um jeito e umas músicas de profeta. Não gosto de asceticismo!".

fiquei mascando a condenação durante uns anos... e até hoje masco, embora hoje sem muita ruminação. Uai, e não é que ele é uma figura 'outra'?! da voz à magreza desarmônica nos traços do rosto... e quiçá como numa das suas letras "momentâneo alienígena".

um profeta! talvez tenha sido por isso que na adolescência fudi minha cabeça ao escutar essa voz cavernosamente invasiva pareando mulher e serpente como seres do pecado que vão e voltam na bagunça de passado-futuro.

jardim das acácias é de fato uma letra profética, profecias confusas e alucinadas de asfalto, tipo aquelas visões estranhas que vemos sair dos 'olhos vermelhos, queimando e estourando as veias oculares dos que viram algo magnífico'! (e isso é o Deleuze possuído por Nietzsche)... das visões às profecias, o salto aparece por ele falar em seres, seres criadores, seres estranhamente não humanos. [Mas até aqui, para mim tranquilo, porque cada um tem seus seres criadores com a roupa que queira... tem gente que faz isso muito bem com filósofos... o santo-deus-filósofo X, que sabe tudo e responde a tudo].

lá vem o Zé, das ruas da João Pessoa, com os olhos vermelhos, alucinado, esgoelando sua homenagem animal, louca e despudorada sem vontade de sair da caverna, como "Judas em paz". Uma tal voz ora invasiva ora cansativa ora enjoativa e ora tudo junto, mas inegavelmente, singular.

para mim, o jardim das acácias, uma belíssima e amante-traiçoeira homenagem... no jogo louco das terras que nos parem, nos recebem, nos expulsam e nos estrangeiram!

(por sinal, a guitarra original dessa música é do pepeu gomes no final dos 70s)




24 de junho de 2014

o dia em que a mão encostou na nuvem

julinha de 5 anos:
- carol, o sol vai embora dormir aí a lua chega. A lua fica acordada a noite inteira com as estrelas.

carol pensa:
- o que será que a lua e as estrelas ficam fazendo acordadas a noite toda?! Ham...

julinha 5 anos e prima da carol diz:
- carol, sou doidinha para encostar a mão ali naquela nuvem.

carol infere:
- uai, julinha, só encostar.

julinha maquina o plano:
- um dia vou entrar no avião e quando chegar no céu, vou abrir a janela e colocar meu braço no meio da nuvem, aí vai derreter e aparecer um monte de passarinho.

carol pensa:
- caramba, por que não tive essa esperteza tão meiga, leve e terna?!

16 de junho de 2014

Dias, eu vos suplico

Mais um discreto episódio do cotidiano - fragmento 0,00001111 (porque entre o 0 e o 1 há infinitos, às vezes possíveis).

O objetivo era fechar a tarde após um longo processo de labuta, cuja bandeirada do finish seria o presente do amigo.

Pois bem, maratona realizada com imensa empolgação, num processo em que a mente rouba o indivíduo milhares de vezes e o presentifica diante da oferenda: “Será que esse ele vai gostar?!”, ou: “Será que essa vai servir?!”, ainda: “Ixe, mas essa é brega! Não, brega para mim, pode ser que ele goste”, e o imbróglio continua: “Meu deus, preciso ser mais atenta para presentear, como não lembrei antes?!”. E eis que os minutos vão passando.

Até que aquele presente resolve surgir dos caminhos mais profundos do estabelecimento, como uma magia inexplicável (e naquela altura da empreitada, você realmente já acredita em magia): “O presente perfeito! A cara dele! Tudo que eu precisava!”. Você agarra o presente, busca apressadamente o caixa para pagar, já pensando no pacote colorido, e segue, com cara de queniana em época de corrida de São Silvestre: “Achei! É esse! Fim! Valeu a disciplina insistente”.

Passado pelo pagamento e pelo conflito da mente entre eu mesma fazer o pacote colorido com cara de Carol, ou, me render à esteira do pacote padronizado, segui para o balcão do pacote.

Alegrinha, chego lá e topo com uma fila que inevitavelmente nos faz pensar: “Só por um amigo mesmo rola ficar nessa fila de pacote!”. O celular treme, a mente desconcentra e conecta na mídia móvel. Chega mensagem, envia mensagem. E a fila vai passando, até que você se dá conta de que ficou para trás e outras pessoas se adiantaram à sua vez.

Até aqui tudo bem, até que você decide retomar a concentração no presente e percebe que ficou para trás, segue passos adiante e pede o pacote para presente.

Eis que surge uma mulher enlouquecida, histérica, um ‘ser’ que só Freud nas profundezas das suas viagens tentaria compreender: “Não! Não! Ela passou na minha frente e você terá que me atender!”.
Eu, um ‘ser’ pequeno, indefeso, usando e abusando da cor laranja em plena segunda-feira, numa cara do tipo “de que caverna saiu esse descontrole emocional em formato de homo sapiens sapiens fêmeo?!”, percebi meu coração disparar e minha mente num estrangulamento de faculdades entrou em pane no impetuoso conflito: “Discuto com esse ‘ser’ descontrolado ou respiro fundo e alivio meu coração ‘sofredor de intensidades’?!

A razão não prevaleceu, nem tampouco o diagnóstico da histeria, mas me tomou conta nas veias um nojo e simultaneamente uma tristeza ao perceber a imbecilidade naquele escarro pranchado, individuado em apenas um corpo! Aliás, quem dera fosse apenas naquele corpo, porque a tristeza surge justamente por ser forçada a ponderar ‘negativamente’ de que esses escarros estão em milhares, e que aquela bestialização personificada é apenas uma versão de um falso problema, aliás, de um problema mal colocado... o velho e antigo problema do ressentimento.

Imediatamente olhei para as duas crianças que estavam com ela, lembrei de que uma infância pode ser uma desgraça por conta de uma discussão por fila, e de o contrário seria a graça de ignorar e seguir gentil nas faixas de pedestres, na cordialidade impessoal, na paciência e admiração por relógios desacertados que possam girar no sentido contrário e blá blá blá...

Finalizei os lapsos de vômito e reflexão em segundos dizendo: “Moço, pode atendê-la, ela tem escolhido um perfil de vida que quero passar muito longe!”.

Depois do meu pacote de presente finalizado, segui pensativa em busca de um açaí, porque em fato, tem encontros que te vampiram energia e te ‘esgotam’ momentaneamente, a doçura.

O presente chegou com imenso carinho e um doce abraço, porque junto foram as reflexões, os suspiros e o esforço para continuar querendo os dias, ainda que às vezes com vômitos alheios!

Carol Gomes

8 de junho de 2014

Seguindo os fatos, quase fiéis ao atualizado

A poltrona B11 cuja marcação parece código de vacina ou ônibus cheio no fim do dia, mostrava-se num forro vermelho. Na vizinha B10 sentou uma garotinha com o pai. Hum, interessante: os pais levando os jovens para o teatro.

Com o encarte da peça na mão - Nonada - a garota começou a leitura tecendo comentários do tipo:

- Olha só, Guimarães Rosa, tinha problemas com excesso de peso, sedentarismo e fumava. Ê pai, esse Guimarães Rosa vivia tudo errado!

Primmm, meu radar para mínimos-micros-silenciosos-anônimos eventos entrou em ação. Comecei numa ruminação noética sobre os encontros dentro de um tempo engraçado que não o oficial.

A peça que não começava, a garotinha que continuava fazendo seus links, e eu ruminando tirei a dose poética da bolsa e fui enfim tomar o gole que deveras ter sido da noite anterior:: "Ziguezagueando..." da dose, só o título desceu!

Voltei a concentração para a conversa da garotinha e no pós apresentação fechei a noite com a digestão assim:

- 'Viver é negócio muito perigoso' mesmo, e depois de já sem vida, esse perigo continua se dobrando e dançando... vai e volta ele surge, inclusive na zombaria de uma garotinha que sem saber dos sertões se colocou no tête-à-tête com o escritor e deu-lhe, ao seu modo, a lição do seu tempo: 'tá vendo? quem é sedentário vive menos'.

Ainda que vivendo prolongado nos perigos da sua obra, naquele instante, Guimarães passou a ser apenas mais um descuidador da sua saúde.

E a peça para mim, foi ao palco e sentou ao meu lado... um e outro: Guimarães e aquela garotinha tão anônima que nem faço ideia do nome, nem tampouco dos traços físicos, porque a mim, valeu mesmo foi sua voz construindo uma nova narrativa, longe de holofotes e cânones.

Dose poética... nem sempre na garrafa e nem sempre na hora certa!

Carol Gomes

29 de março de 2014

Vão se dezenas de sábados em 7 na lista das artes, que olho para o coreto que nos tempos de criança muito agitada tinha por única utilidade: fazer xixi; isso, o coreto só servia no meu universo para fazer xixi, e com muita diversão porque achava espetacular a privada ser um buraco no chão com porcelanato branco nas bordas.

Ironias à revelia, nos hoje insisto em colocar no lugar dos banheiros do coreto interditados há anos, estantes de uma livraria.

O coreto, em atualidade, não sabe o que é vida, a Prefeitura o rogou estátua faz tempo. Fica lá, coitado, na praça, isolado, silenciado, congelado e com a mesma roupa amarela pálida.

A gente passa, senta, olha, pensa, fala e continua a vida com aquele concreto estendido no meio dos dias e das noites. Uma vez e outra, nos sábados de cine clube, me pergunto pela maestria intelectualmente nada virtuosa dos homens públicos em matar a vida, seja como ela for, em carne ou em concreto.

foto: carol gomes - uberlândia mg - praça clarimundo carneiro
texto de mar 2014, foto de janeiro 2016

22 de março de 2014

das passagens anônimas

E a história foi cruelmente assim...

Estávamos na rodoviária de Uberlândia, em Minas Gerais, aguardando o ônibus rodoviário para a capital Belo Horizonte. Eu em pé alongando o corpo para a demorada viagem e uma senhora caminhando de maneira simpática próximo à plataforma.

Na plataforma ao lado estacionou um ônibus chegado de Irecê, Bahia, com destino à capital São Paulo. A senhora simpática encostou-se à grade e ficou calmamente olhando o ônibus. Alguns minutos depois ajudou uma das passageiras de Irecê a localizar o banheiro. Fiquei observando aquele movimento alheio e achei interessante a disposição do brasileiro para ajudar um outro desconhecido.
O ônibus de Irecê seguiu sua viagem e a senhora simpática encostou novamente na grade próximo a mim e fixou o olhar no ônibus que ia saindo da rodoviária.

Falei para ela: É, esse pessoal do ônibus ainda tem uma longa viagem pela frente.

Ela surpresa virou o olhar na minha direção e calmamente disse: Cheguei nesse ônibus sábado passado na mesma hora.

Aí perguntei: E hoje a senhora vai para BH? (pois como eu, ela estava há minutos na plataforma que indicava ônibus para capital mineira).

Disse-me: Não, não. Estou aqui na rodoviária desde 8 horas da noite de ontem. Trouxe minha filha que voltou para Irecê de manhã e volto para o Prata-MG hoje ainda às 13h.

Continuamos a conversa falando da Bahia, sobre a quantidade de ônibus, sobre as tantas gentes, afinal ela estava ali desde 8h da noite anterior.

Lá pelas tantas da conversa que durou uns 10 minutos, a vida tirou de mim uma dor alheia sem precedentes, me levando descontroladamente ao choro. A senhora simpática disse então que no outro sábado voltaria para Irecê naquele ônibus, pois só tinha viajado para Minas para resolver umas coisas, e como não tinha conseguido resolver até aquele momento, precisou permanecer e embarcou a filha de volta que deveria retomar as aulas.

Não perguntei o que foi resolver, porque apesar de ser uma observadora encantada, não nutro curiosidades por questões íntimas dos outros.

Perguntei: Você já conhecia o Prata, está na casa de parentes?

Ela: Não, estou na casa dos baianos amigos do meu filho. Me tratam muito bem.

E ela continuou: Vim para o Prata buscar o corpo do meu filho, mas como o juiz só vai liberar sábado que vem, aí tive que ficar mais dias.

Suspirei, travei e fiquei silenciada.

Perguntei tentando manter a calma: E como será o transporte do corpo, a Prefeitura vai pagar o transporte?

A mãe-senhora simpática respondeu: Não, eles vão me dar os ossos numa caixa de isopor e vou levar no ônibus comigo.

Nessa hora o mundo se transmutou em derradeiro juízo final, meu coração perdido se lançou num labirinto que só encontrava caminho de saída no chora.

Segurei as lágrimas e perguntei: E a senhora tem tido dinheiro para os gastos?

Não, não, os amigos que estão ajudando.

Chamei-a num canto pois meu ônibus buzinava o fechamento do embarque e a partida. Dei-lhe o dinheiro que tinha, partilhei um abraço forte com o aperto mais sincero em energia confortante que consegui e lancei as últimas palavras da nossa conversa: Hoje é assim que consigo ajudar e desejo muita força para senhora seguir a vida.

Saí correndo para o ônibus e chorei de um modo que não controlava.

Olhei pelo vidro do ônibus e ela em mímica dizia: Boa viagem minha filha.

A despeito das reflexões que sigo fazendo, entendi uma coisa.

Quando entrei no ônibus, aquela senhora se despediu de mim num gesto para o seu filho.

Quantos "boas viagens" ela havia desejado desde a noite anterior ali naquela rodoviária. Um infinito repetir de “boa viagem” que não voltaria mais a dizer para o filho.

Esse "boa viagem" não era meu e nem de ninguém, eram "boas viagens" dela para o filho que há 2 anos e meio não via.

Essa mesma mulher estava na rodoviária sozinha, sentindo dor e solidão, mas não dor e solidão de ausência e sim de vida. Dor do excesso de presença cruel da vida.

Doidamente vi um excesso, um suspiro de tempo, uma dobra de existir.

Carol Gomes

19 de março de 2014

A historinha é mais ou menos assim

Estávamos na Nacional Expresso no trajeto de Goiânia (capital na região central de um cerrado genuíno), para Ituiutaba, (região pontal do Triângulo Mineiro). Eu na poltrona 13 e o Lucas com a mãe nas poltronas 19 e 20.

E então o Lucas começa:

Mãe, onde estamos?
A mãe responde: Saindo de Goiânia.

E o Lucas faz outra pergunta: Daqui o ônibus vai para onde?

A mãe: Vai para Morrinhos.

Lucas pergunta novamente: E depois de Morrinhos vai para onde?

Vai para Itumbiara. Respondeu a mãe começando a sinalizar impaciência.

Depois de Itumbiara?
Vai para Centralina.

E depois?
Canápolis. Disse a mãe já meio monossilábica na resposta.

O Lucas diz: A gente desce em Canápolis e aí o ônibus vai para onde?

Ituiutaba! Ituiutaba, Lucas!
Resposta atingindo um surto de impaciência com as perguntas.

O Lucas manda outra pergunta: E depois de Ituiutaba o ônibus vai para onde?

A mãe então em tom nervoso: Acaba, aí ele não vai para nenhum lugar, é o fim!

O menino ficou calado e soltou alguns segundos depois a pérola da noite:
Então Ituiutaba foi onde Judas perdeu as botas?!

A mãe não falou nada, ficou calada e só soltou um suspiro do tipo: 'é hoje!?'

E então fiquei pensando no quão próximo o fim do mundo pode estar. Veja só, para o Lucas passou a estar no bico das Minas Gerais.

Suspensa na poltrona 13 fiquei divagando na conversa alheia no serviço ou no des-serviço da mãe do menino ao lhe dar a possibilidade de imaginar onde estão as botas de Judas, e, ao mesmo tempo de anunciar onde encontrar o fim do mundo.

O Lucas deve ter uns 6 anos, a mãe uns 26, e eu na casa dos 30... fiquei viajando, literalmente, pelas etapas que a gente vai passando por essas BRs até topar com o fim do mundo, e que quando a gente topa, o mesmo fim do mundo dá mais uns passos para gente não o enxergá-lo.

Para o Lucas, Ituiutaba passou a ser o fim nesta noite, mas só até o dia em que ele sozinho sair de Canápolis e encontrar nas terras do Tijuco o começo de outros territórios por onde as botas de Judas andam.

Carol Gomes

16 de março de 2014


uma árvore, em potência
potencializando
troncos enrijecidos, em luta
silenciando
folhas verdes brilhosas, em úmido
desejando
frutos revolvendo sobre si mesmos, em sabor
saudando
aquilos guardados na ausência
de-plumas.

[carol gomes]



11 de janeiro de 2014

Hora de tomar medida das fraturas, elas parecem que se repetem [...] exasperante! Essa repetição só confirma a monotonia da paisagem.

No alto do barranco, cresce uma carqueja. Subo para fazer novas medidas. Na realidade eu quero é encontrar uma tal de ciperácea que cresce ao redor da carqueja. Essa espécie pode ser fundamental no trabalho de botânica da Galega. Se eu chego com essa flor, quem sabe volta a reinar alegria lá em casa?

Em casa ela botânica e eu geólogo. Um estuda as falhas nas rochas e o outro flores. Um escava terra e tira pedras enquanto outro colhe flores. Um casamento perfeito, todo casamento é perfeito até que acaba.

Aprendi a gostar das flores tanto quanto das falhas geológicas.
Gotas de orvalho artificiais em pétalas de flores de plástico.
Paralisia múltipla... por isso fiz essa viagem, para me mover, para voltar a caminhar.

[de alguém, não sei quem. meu não é]