10 de novembro de 2014

¬¬ desenhos livres com a luz vibrante de uma amizade ¬¬

A cidade era pequenina, interiorana, embora não menos polêmica que um grande centro. A praça badalada, point central da urbanidade da Vila, a Boa de Goyzes. As personagens, mineiras, saídas do Triângulo. As árvores, variadas, cujo destaque era do cajazeiro.

Eis aí os elementos fundantes de um diálogo que só é possível entre amigos. Sim, amizade que no vai e volta dos dias vai rolando de loucura em loucura, cujas bordas latejam cuidado recíproco e admiração.

Éramos duas, duas Anas... a alta e a baixa. Entre um e outro copo de cerveja, sentadas na mesa disposta na rua de pedras históricas, olhamos estranhamente para as árvores do outro lado da rua que marcavam a parte baixa da Praça do Coreto. O majestoso cajazeiro rodeado de árvores menores adentraram no nosso diálogo.

Pergunto hoje: que amiga louca é essa que mergulhou numa viagem tão familiar a mim e tão estranha a muitos? Que sem pudores imagéticos meditou comigo a sexologia daquelas árvores expressa nos traços dos troncos, nos pigmentos colores das folhas, nos retorcimentos dos galhos... e mais, muito mais, no movimento nada visível que gritava pelos ares os quereres daquelas três árvores. A racionalidade se ampliava e as vibrações marcavam um encontro acontecimental.

Sim... uma amizade que encontrada, naquele instante, e só naquele instante, aconteceu de encontrar outras vibrações e experimentar uma outra dinâmica vital cujo fluxo temporal é diverso do nosso... o fluxo das árvores.

Naquele dia, compreendemos os "quem" daquelas três existências que correntemente habitam a Praça que sempre frequentávamos. Mas só naquele dia, só naquele momento, só com aquele diálogo (díade de duas Anas), conseguimos adentrar noutra vibração... Por que?

Porque... porque tem coisas/momentos que a gente só vive, efetivamente, a quatro mãos, a quatro olhos, a quatro ouvidos, a dois cérebros, a duas bocas... ou seja, só se experimenta na interlocução... que necessariamente não exige verbalizações, exige, quiçá, muito antes, 'ligare', ligação de diferenças que na leveza encontram-se em encontros alheios, soltos no tempo, sem moralidades, sem agendas, sem pretensões...

Taí, aquele nosso diálogo na Praça do Coreto... aquelas árvores que nunca esqueci... naquele momento eu senti que embora sejamos tão diferentes, tão nós, conseguimos nos comunicar... e assim, comunicamos nessa amizade!

Esse é meus parabéns! Para escorpiana mais louca e autêntica que conheço! Indubitavelmente a mais autêntica!

Para minha amiga, Ana... os meus mais nobres desenhos: esse com a luz (a fotografia), esse com as sílabas (a narrativa), e esse dos dias (a amizade)!

Carol Gomes


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