20 de novembro de 2013

Dóris das necessidades

branca
pela rua cheguei, através da rua findei!
minha natureza?
apeladamente faminta por vadiagem, sem jamais abdicar do aconchego de casa.

amarela
encontramo-nos na 'solitude' da passagem de ano, quando todos seguiam férias, nos companheiramos.
nossos cios sempre pareados, uma pelos telhados, outra pelas estradas.
na gestação, eu mais ansiosa que a barriga, e a prenha pulando janela com a melancia no 'buxo'.
no parto, retardei dias a partida para horas seguintes os miados acordarem os amigos: vai parir!
na amamentação, minhas tetas inchadas, assim como as suas, amamentaram dolorosamente as cinco crias.
no domingo derradeiro do setembro, sentimos a chuva última cujas gotas mexiam no filme mental daquela estada.
nos dias de empacotamento, fiscalizamos cada pacote de mudança, lambemo-nos em lágrimas.
planejei sem contar com as vicissitudes, que no dezembro reencontraríamos.
os herdeiros, originalmente deserdados por animalidade, seguiram mundos distintos, então, voltamos para a vadiagem.
no primeiro final de semana, estávamos, nos telhados e nas estradas.
continuamos, nos gozos...
embora, num momento sinistro, num universo, o tempo tenha soluçado.
assim, não mais encontro.
a vila nos deu, a mesma vila nos tirou.

branca
se por necessidade cheguei, após plantar felinos no mundo, quiçá por necessidade segui pelas pedras.
pedras que de mim se despediram num saco preto dado ao caminhão simbólico dos restos humanos.
naquela manhã de terça-feira, segui, para as lembranças.

[minha Dóris, se foi...]

Carol Gomes