7 de julho de 2020

Cultura da mesmice = Mono-cultura


Nesse prato aí tem: batata doce assada com pimenta calabresa; antepasto de berinjela com pimenta branca e rosa; ricota de macadâmia com óregano, alho e azeite; shitake com cebola, alho, uva passa preta, tomilho; pesto de manjericão; queijo holandês rembrant; queijo brasileiro tipo gorgonzola; queijo brasileiro parmesão. Ponto.

Em termos quantitativos é pouco, é reduzido, é mínimo. Inversamente, em dimensões qualitativas no que diz às singularidades, é infinitamente gigante, múltiplo, diversificado. Entre os queijos, entre os encontros do alho com cada uma das pimentas. É diverso no escorrer do azeite prensado a frio com o manjericão colhido na horta cujas folhas foram amassadas secas para não atrapalhar na remolecularização. A macadâmia 12 horas de molho, lavada com água filtrada para abraçar o orégano (tudo bem, ele estava fresco). O acompanhamento: vinho Tempranillo e água com gás e limão.

Era uma vez uma cultura como filha do cultivo. Acontece que a amplitude do verbo cultivar foi tão sufocada pelo reativo monocultivo agrícola que a filha deixou de ser MUITAS em potência e hoje é apenas UMA em ato.

Monocultura do pensamento. Monocultura da alimentação. Monocultura das roupas. Monocultura do cabelo. Monocultura do estudo. Monocultura de cinema. Monocultura de música. Monocultura de cheiro. Monocultura de arquitetura. Monocultura de carro. Monocultura de atividade física. Monocultura de vida. Monocultura dos atacados (compro muito do mesmo produto). Mesmice aguda é nome chulo para monocultura de existência. Para não dizer a famosa: caretice!

Com direitista nem converso. Tempo é precioso. Agora tenho aprendido que conversar com esquerdista que só como carne, arroz, feijão, macarrão e farinha de trigo enformada com ovo e fermento químico, não chega a ser perda de tempo, embora não mais que girar em torno do próprio rabo.

Resistência já não é mais apenas consciência de classe, é muito antes e muito mais: se habitar por escolhas das multidões, sobretudo das muitas-multidões-culturais. Nem fino, nem luxuoso, as multidões são das épocas, dos tempos de ontem e dos agoras, das matas, dos quintais, das cozinhas de comidas e não das prateleiras dos hipermercados com produtos que o dinheiro ludibria.

Mais comida, menos produto!
Mais cultura, menos monos!

Carol Gomes