20 de novembro de 2013

Dóris das necessidades

branca
pela rua cheguei, através da rua findei!
minha natureza?
apeladamente faminta por vadiagem, sem jamais abdicar do aconchego de casa.

amarela
encontramo-nos na 'solitude' da passagem de ano, quando todos seguiam férias, nos companheiramos.
nossos cios sempre pareados, uma pelos telhados, outra pelas estradas.
na gestação, eu mais ansiosa que a barriga, e a prenha pulando janela com a melancia no 'buxo'.
no parto, retardei dias a partida para horas seguintes os miados acordarem os amigos: vai parir!
na amamentação, minhas tetas inchadas, assim como as suas, amamentaram dolorosamente as cinco crias.
no domingo derradeiro do setembro, sentimos a chuva última cujas gotas mexiam no filme mental daquela estada.
nos dias de empacotamento, fiscalizamos cada pacote de mudança, lambemo-nos em lágrimas.
planejei sem contar com as vicissitudes, que no dezembro reencontraríamos.
os herdeiros, originalmente deserdados por animalidade, seguiram mundos distintos, então, voltamos para a vadiagem.
no primeiro final de semana, estávamos, nos telhados e nas estradas.
continuamos, nos gozos...
embora, num momento sinistro, num universo, o tempo tenha soluçado.
assim, não mais encontro.
a vila nos deu, a mesma vila nos tirou.

branca
se por necessidade cheguei, após plantar felinos no mundo, quiçá por necessidade segui pelas pedras.
pedras que de mim se despediram num saco preto dado ao caminhão simbólico dos restos humanos.
naquela manhã de terça-feira, segui, para as lembranças.

[minha Dóris, se foi...]

Carol Gomes

17 de outubro de 2013

Adendos a uma pólis separatista e cadavérica

Passados 3 anos da inauguração, eis que recentemente adentrei na tão publicitada Cidade Administrativa do governo estadual das Minas Gerais. Quanta frieza medonha passou-me na espinha!

Fiquei dias e dias pensando sobre esse ocorrido dispensável na vida de uma reles pessoa que não nutre pretensões de dominar o mundo. Em sintonia com a famosa: “Viveria muito bem sem isso”.




Pois bem, calculada uma previsão de tempo necessário para chegar à pomposa sede do Monsieur Anastasia e cia Neves, bem como lançar no mapa a rota mais econômica, carreguei o celular, coloquei a blusa de frio (afinal era um dia chuvoso), passei um batom para amenizar a ‘cara’ de pessoa não requintada e me joguei na rua. Parte do caminho fiz a pé até chegar num ponto de informações para turista. De posse da instrução para ‘tomar’ o ônibus em frente ao Parque Municipal, segui na empreitada.

Coitadinha dessa romântica aos moldes do XXI, não imaginava que mofaria no ponto de ônibus nada menos que 1 hora. O ônibus?! o tal SE02, linha executiva específica para a tal Cidade da burocracia. Atente-se: custo para o passeio turístico assombroso: R$ 5,00. Isso mesmo, um cidadão que necessite ir à sede do governo resolver questões oficiais, será obrigado a desembolsar R$ 10,00 exclusivos para transporte. Isso porque em Minas Gerais de certo que a população goza de nado borboleta em dinheiro. R$ 10,00 se quiser voltar para a cidade de BH, mas se por acaso se encantar com a cidade do governo e por lá ficar, ou, se enfartar de nervos e de lá mesmo partir para o cemitério, o custo será os R$ 5,00 apenas da ida.

Na confusão deliciosa da Av. Afonso Pena, já com as pernas bambas de ficar em pé e com a visão vesga de tanto fixar letreiro dos ônibus, visualizo o tal SE02. A mente já mendigando piedade comemora: “Alegria, alegria, SE02, sou feliz!”. Piedade meu povo, assim também tem sido os golpes do Estado, a sujeição do indivíduo a situações tão bizarras que o coitado passa de fato a se enxergar como tal e mendigar momentos mesquinhos de uma esdruxula alegria. Onde já se viu comemorar e sentir-se alegre por ver o ônibus SE02 do trajeto para um túmulo burocrático?!

Já previa a empreitada do dia, porque, claro, construíram a tal Cidade no caminho entre aeroporto e BH, de modo que a Cidade concreto seja também um ponto turístico, tal qual um lego gigante erguido com dinheiro público. Inúmeras vezes percorri o caminho de acesso do aeroporto para a capital, e ao ver a sede do governo me perguntava ingenuamente: “Cadê as árvores?”. Quanta birra tenho dos tais coqueiros, palmeiras, sei lá que diabos é aquilo que virou praga em projeto paisagístico. De longe nem imaginava que no dia de uma visita fatídica, o susto e a repulsa estomacal seriam incontroláveis.

Continuando o trajeto do SE02, lentamente imerso no trânsito de capital, observei o luxo do ônibus, li e reli o quadro de horários que anunciava tempo médio de espera nos pontos de 30 minutos (mentira descarada!), assisti um pouco da TV com propaganda imbecil (com justificativa, afinal, estava eu indo para ao encontro de um feito imbecil que só depois de lá chegar eu saberia). A viagem do centro de BH até a Cidade Administrativa demorou uns 40 minutos. Caramba, fiquei pensando nos funcionários que fazem o percurso diariamente. Ou seja, pagam pelos caprichos de políticos com sistema neurológico suspeito.

Saí da Cidade de Belo Horizonte e cheguei à Cidade Administrativa. Sim! São cidades diferentes, e sem pudores, tenho comigo que essa diferença fundamental figura dentre os objetivos principais dos mandantes executores do feito: separação clara e distinta (afinal, cartesianamente e aludindo a uma amiga: “a bestialidade é a coisa mais bem distribuída entre os homens”), BH é uma coisa e Cidade Administrativa é outra, aliás, Cidade Administrativa é uma coisa e o resto é o resto. Ok?!

Chegando na pólis administrativa mineira, antes mesmo de descer do ônibus coletivo, iniciaram os sustos: 1º suspiro enfartídico, o estacionamento de funcionários e visitantes fica a uns bons quilômetros até os prédios. Pensei: “o povo anda isso aqui todo dia no sol queimando o couro cabeludo? Não, não, o governo paga um transporte interno para o acesso do estacionamento aos prédios. Hum, entendi!

2º suspiro cabulento, o indivíduo anônimo que chega no local tem que adivinhar qual direção seguir e onde estará o carimbo e papel que necessita, porque não tem placas identificando os órgãos, nem tampouco mapas de localização, um mínimo que eu esperava, porque se é para ser shopping, então que seja com deveras competência. Se tinha isso por lá, estava escondido, porque antes de cutucar o povo para pedir informação, procurei guerreiramente por painéis de informação.

3º suspiro brochante: cagaram na cabeça do Niemeyer, a energia que rola na Cidade Administrativa é de morte total, frieza, afetos aniquilados, um túmulo! O arquiteto que projetou o belíssimo Edifício Niemeyer na Praça da Liberdade em BH mexeu no túmulo ainda tão fresco e deu dor de barriga com essa Cidade burocrática. Certeza!

Adentrei ao recinto e puuu!!! Protocolo de segurança de sistema prisional: Documento de identidade, registro de digital, foto e registro do motivo da visita. “Visita é o caramba, estou aqui por obrigação, para pegar um documento”, pensei enquanto olhava para a recepcionista que digitava e fazia as perguntas.

A recepcionista registrava minha presença de tudo quanto era modo, e enquanto isso, ia eu observando vários funcionários terceirizados, seguranças para todo canto e catracas de acesso liberadas apenas com crachás. Fiquei pensando: “Provavelmente a premissa de recepção aos indivíduos é: todo mundo é pobre bandido ou manifestante baderneiro, evite o acesso dessa gentalha a todo custo”.

Feitos os registros, a moça devolveu minha carteira de identidade e um crachá de visitante e disse: “Com esse crachá você será liberada para entrar no prédio e ter acesso à sala onde precisa ir”. Isso mesmo, tudo quanto era mexida da perna eu deveria passar o crachá em um painel de identificação.

Segui a caminhada, com a cara de matuta com armas apontadas de todo lado, seguranças olhando com cara de “vou te estrangular se você sair do protocolo”. Nem o elevador era normal, não bastava apertar qualquer um, tive que apertar um botão central que aciona todos os elevadores, sendo que o painel avisa qual elevador você deve entrar. “Vixe!”, pensei, “o meu elevador vai ter uma bomba para me eliminar do planeta, sou pobre e manifestante de nascença”.

Cheguei ao andar devido. Outra recepção. Agora um moço que mostrou com o dedo para onde deveria caminhar e disse ao final: “Passe seu crachá no sensor do painel ao lado da porta para que a mesma abra”. Soltei mais um “Vixe!”.

Entrei num recinto enorme todo recortado por mesinhas com computadores e impressoras em pontos estratégicos com estilo ‘disco voador’ de tão avançadas. A imagem cinematográfica que veio à mente foi, indubitavelmente: “um criadouro de suínos, agência de notícias ou galpão de telemarketing”. A imagem mostrou-se fiel, afinal, o que tem feito a esfera estadual dos poderes?! Se não propagandas, falatórios vazios, porcarias de chiqueiro em processo de engorda?!

Caminhei entre algumas mesas e cheguei à devida que disponibilizaria o documento necessário, claro, com carimbo e assinatura, porque era apenas isso que interessava; não importava quem assinaria, mas por formalidade, a assinatura era indispensável. Fui informada pela mesa vizinha que naquele instante o habitante da mesa não estava, pois presenciava uma comemoração e sugeriu que eu aguardasse. Sugerido e cumprido, afinal, a mendiga por documento oficial ali era eu, ou seja, eu que aguardasse ou me estrepasse. E por favor, sem fazer manifestação, não poderia esquecer de todos os registros que foram feitos, com foto e digitais. Qualquer tom mais alto e minha vida seguiria em dias de sol quadrado.

Aguardei uns 10 minutos em um sofá de corredor de frente para uma super-mega impressora que cuspia, cuspia oficialidades a serem assinadas. “Tadinha dessa existência, só cospe porcaria”. 10 minutos delirando na pólis burocrática e consegui o que precisava. Saí ofegante, querendo sumir daquele lugar com energia de túmulo carimbado e assinado. No caminho de saída, protocolo mantido, “passa crachá, abre porta e libera elevador”. Na caminhada topei com deputado e prefeito sonorizando falatórios no corredor, com seus bigodes lindos e ternos impecáveis, afinal, nos criadouros, vendem-se a aparência do que vai para as prateleiras da indústria alimentícia que capricha nos venenos.

Depois de sair do prédio, perguntei onde conseguiria tomar um café, afinal, foram mais de 3 horas desde aguardar o ônibus até a espera pelo documento. Indicaram um prédio chamado Centro de Convivência. Pronto, já tinha escutado esse nome em outro espaço público, e que na verdade funciona por contrário, o lugar onde não se convive. Ao entrar, confirmei a desconfiança inicial, lá estava eu em um shopping, com lojas, bancos e praça de alimentação. Quanta feiura tudo aquilo. Quanta artificialidade.

Pedi um café e um pão de queijo que me custaram R$ 6,00. Ou seja, pobre que precisa dos serviços oficiais do governo mineiro precisa somar aos R$ 10,00 do transporte os R$ 6,00 de alimentação.

Enquanto tomava o café, sentia o vento frio e úmido que passava por entre o concreto com janelas espelhadas. Titubeante foi meu pensamento entre uma aparente beleza arquitetônica e a enunciação da morte do Estado, cujo cadáver continua sendo alimentado por autoridades fantasmagóricas e violentas.

Que a arte não esteja relacionada, permanentemente com o belo, isso me é comestível, mas naquela ida à Cidade Administrativa e diante da edificação de um projeto propagandeado como sendo de autoria do Niemeyer, senti um mal estar estomacal que travou a respiração. Sentindo a inexistência de pulsões, visualizando em ausências o massacre de vidas e exploração de indivíduos, experimentei, impositivamente uma repulsa a tudo aquilo, repulsa por todo aquele concreto, por todas aquelas palmeiras artificiais, falseantes de natureza. Deixei o café e o pão de queijo por terminarem e procurei imediatamente a parada de ônibus.

A máquina fotográfica que estava na bolsa, emitiu indisposição para qualquer exposição, não haveria naquela pólis cadavérica nenhum instante aberto aos encontros de luzes para as lentes. Não queria reter nada, não queria ampliar nada daquele lugar.

Avistei o ônibus parado para o embarque, corri muito para alcança-lo e não precisar aguardar nenhum minuto naquele lugar. Senti horror, enjoo, repulsa e desprezo por tudo aquilo.

Em fotografia não fui tomada pelo desejo do registro, mas em pensamento, o fantasma da Cidade Administrativa tem me rondado. Dias e dias ruminando sobre o que há revelado como não dito mas expresso nessa pólis da burocracia?

Ali, há uma concentração do poder institucionalizado que aumenta consideravelmente os gastos com manutenção. Aumenta-se o quantitativo de segurança. Aumenta-se o gasto com iluminação, refrigeração, transporte, contratação de terceiros. Gastos astronômicos para a construção dos prédios, enfim... Mas esses gastos são complementares, porque, impõe-se, efetivamente, o afastamento do poder público da sua raiz pública. O Estado tem dono, suas salas não são de acesso e não devem ser. A máxima é proteger o Estado do povo.

Veja-se em números a propaganda da Cidade Administrativa inaugurada em 2010: 270 mil m² construídos. Valor da obra divulgado em mais de 1 bilhão. Número de pessoas que trabalham diariamente somam 17 mil. Ora, eis uma Cidade criada exclusivamente para separar: vida e burocracia, aliás, uma Cidade para submeter as cidades, culturalmente diversas com poderes anônimos e mascarados anteriores ao institucional.

Não especialista confessa que pretendo permanentemente ser, ouso desconfiar que qualquer mando racionalizado em planificações, concluiria que a construção da tal Cidade Administrativa não representa avanço nas rotinas, quiçá economia nos gastos com manutenção. A concepção e execução dessa estrutura atende, exclusivamente, interesse político muito bem fundamentados em vaidades ascéticas de superioridade e dominação, para não falar em distúrbio psicológico por conquista de poder.

Nosso tempo continua mostrando cotidianamente que a centralização de quaisquer ações finda em fracasso, diga-se lá concentração físico-estrutural do poder institucional. Mas tudo bem, no meu país ainda as razões são diversas, como pretensa origem do ‘ser brasileiro’, ainda que essas razões por vezes custe muito caro para milhões que não tem qualquer pretensão por poder.


É indispensável que aqui a Cidade Administrativa seja lida como representação do governo estadual de Minas Gerais enquanto instituição, por isso, nenhuma das ironias são remetidas a servidores, funcionários, estagiários, enfim, aos seres individuados que habitam a tal Cidade, o texto tem sim o propósito de uma crítica política, anarquizada, que desde longínqua data encontra na autora uma crítica à existência da esfera estadual dos poderes, e que por sinal, grito pelo fim desta.
Carol Gomes

29 de setembro de 2013

as felinas de uma Goiás Velha

Dóris e eu apreciando a chuva que vai chegando na sua timidez, digna de sonoplastia natural com trovões distantes.

O sino do rosário badala vezes e vezes a compor a primavera que traz e que leva... flores e feitos...

Nas caixas de sabão, macarrão, leite e varejos, empacotadas lembranças do cerrado goiano.

Carol Gomes

14 de julho de 2013

"um retrato atordoante do absurdo 'da' condição humana"... o cinema, uma vez mais!

Quando já não havia mais folhas nas árvores e nem frutos na ramada, e do céu vinha o divino castigo para o pecado insone, cercaram-me o gemido da morte. Envolveram as dores do inferno em minha angústia, invoquei o senhor. E do seu santo templo ele ouviu, ele ouviu a minha voz. Foi quando mandou um castigo terrível para que os homens voltassem a lembrar seu nome. A terra estava mais seca que o coração do homem sem crença, e ele disse: “Aquele que tiver maior desespero e sofrer mais do que eu sofri [...] será o portador de minha vontade”.

[narração de abertura do filme Os Fuzis, 1964, direção Ruy Guerra]


4 de julho de 2013

Acordou dos sonhos com a linha e a agulha de costuras incosturáveis...
óbvio!
Pastou no asfalto consumindo borracha 34...
impreciso!
Mastigou um som com digestão prevista anteontem...
improba!
A-pontou abraçando bordas anômalas...
soluçou!

Carol Gomes

1 de junho de 2013


Ei! Hoje eu mando um abraçaço...

Passamos pela avenida que outrora caminhava quase mendicante nos idos 90 e o termômetro marcava 17°c na correria dos ponteiros que ressonantes encontravam as 20 badaladas que pisava nos 80 por hora! Sem freios e poucos agasalhos tal qual a ausência de paradas na escrita.


No grão do acaso eis que chega muito bem e emplaca uma segunda de dez silhuetada na quinta que trazia sem propósitos a sexta. A disposição para não 'stopar' na escrita refletia nos passos rumo ao box do design simples embora costumeiramente novo.

Chega! Aguarda! Aperta! Aplaude! Entra o Veloso... grisalho, discreto, desacelerado e afirmadamente Caetano dos XXI; transbordando estardalhaço do eterno mistério de tempos que rodopiam em que o vigor mantém-se na ciência-sabida de que é possivelmente gozar os dias desacelerando em prol de um reinventar a caretice de ser intimista sem abdicar do mundo! 

"Dei um laço no espaço,
Pra pegar um pedaço,
Do universo que podemos ver...

Um amasso, um beijaço,
Meu olhar de palhaço,
Seu orgulho tão sério...

Ei! Hoje eu mando um abraçaço..."





15 de maio de 2013

"Essa aqui vai para as coisas que não se realizam por excesso, para as coisas que não são por não terem cabimento.

Escrevi meu nome no sacrário que se encontra ao lado da geladeira e próximo aos pequenos frascos de remédio e junto a isso tem uma estante e sobre essa estrutura um espelho que reflete o rosto do homem com quem cotidianamente tu compartilhas o dia e faz coisas diferentes, como declamar o abecedário de trás para frente e eleger certas cores raras como suas preferidas.

O homem comum, o mesmo do espelho, não acreditava muito nos pensamentos e começou a listar. Passei o dia cortando passos, arrumando coisas, desfazendo nós, roendo as unhas, falando só, assistindo tv, descobrindo ruas, circulando mapas, fumando cigarros, trapaceando bandidos, viciando organismo, analisando sangue, regendo conflitos, adulando desejos, reinventando sonhos, evitando pânicos.

Destratou seus sentimentos como que pedindo benção a deus e ao diabo para driblar das culpas e entrou em casa. Deixou a arrogância lá fora descansando para beijar a juventude que dormia no sofá. Beijou-a e sua mão entrou tanto, tanto, tão longe que alcançou o coração do sonho, e ali teve a certeza que queria entrar no sonho por inteiro. Mas ela acordou e disse - que a organização é a maneira mais privilegiada de ser medíocre. O homem comum concordou enquanto retirava o seu braço ainda com o cheiro do sonho."

[narração final do poeta Zizo no filme 'Febre do Rato'... narração do excesso, em que mulher e juventude são elementos de uma guerra múltipla, particularizada e também coletivizada em poesia!]

foto: carol gomes ¬ ssa: porto da barra, maio 2013

3 de maio de 2013

Não quero me privar de ter no corpo marcas de vidas... nem tampouco quero tirar as olheiras que marcam meus olhos famintos pelo mundo.

Carol Gomes

21 de fevereiro de 2013



É que, ultimamente todas as minhas certezas parecem ter virado de cabeça para baixo. A filosofia é um céu vazio no qual todos continuam pendurando suas pedrinhas brilhantes fazendo-as passar por astros.

Gostosa, a rolha. Todos temos gosto de rolha. Somos rolhas. Vedamos a razão, a verdade. Quando eu era criança com 5 ou 6 anos, brincava na sacada com um espelho. Meu pai perguntou o que eu estava fazendo. Falei: “Cegando o sol”. Ele, sério, disse à minha mãe: “Nosso filho será um impostor”. Tinha razão. Tornei-me filósofo. O filósofo é um impostor, ou se preferir, o impostor é um filósofo.

Até agora, as filosofias embora divergentes, tiveram uma só meta: Combater a opressão, o nazismo, o fascismo, o comunismo e tudo o mais. Mas agora dizem que as falsidades ideológicas acabaram! E então? A especulação filosófica era um remédio. Curada a doença, o remédio virou uma droga maléfica.

Que bosta! Não quero drogar mais ninguém, entendeu?!

Trecho do Filme
Ettore Scola in O Jantar (La cena) de 1998


4 de janeiro de 2013

Festival do eu acanhado

Porra de tempos... quiçá por 'essas' é que na anarquia artística, um protótipo-projeto germina, 'Bundas-Instagram'... fotografar bundas e bundas, porque delas, diariamente, sabemos que saem escárnios tanto quanto belezas!

Aí o poeta dos ratos do mangue...

"As pessoas, pazinho, ficam falando em futuro, que vem mudança, mas não estão nem aí para as coisas que realmente estão mudando. Perderam a capacidade de espernear para as coisas mudarem. Desaprenderam.

A imbecilidade venceu a parada. Quem ganha tem a verdade. E o que ficou?

É isso aí que a gente pode ver. Não tem nada. Não tem espírito coletivo. Não tem porra nenhuma. Olha lá: o Festival do eu acanhado. A caravana dos milagres sem realização. A lógica do umbigo miúdo. A trepada sem prazer. O futebol sem bola. A porra da boca sem a porra da língua. Olha praí!"
[trecho do filme 'Febre do Rato']