30 de abril de 2017

meu comentário ao Bel,
porque agora eu quero tudo outra vez.

seu eu tivesse técnica dos traços, em frações de segundos desenharia uma estrada ladeada de caatinga com o sol nascendo de todos lados. Cada sol um sol sendo único como sol. Na multiplicidade dos horizontes você viria caminhando contraluz solar... andante, poetizante e cantante das canções que marcaram a passagem da minha adolescência para a vida adulta.

justamente nos idos de 2004, marchando por Fortaleza, mineira, estudante universitária de filosofia, sem 1 real no bolso, comendo jambo caído dos enormes pés das calçadas públicas. Imigrante inversa do sudeste ao nordeste em busca dos conselhos populares da capital cearense que recentemente elegia Luizianne para prefeitura, conheci um cinema de fundo de quintal à beira da linha do metrô no bairro Damas e na parede de projeção cujo filme exibido era "Deus e o diabo na terra do sol", topei com a frase mais revolucionária que pudesse me bombardear: "Amar e mudar as coisas me interessa mais". Desde então a vida dura em Fortaleza passou a ter cores e poesia.

"Essa lembrança é o quadro que dói mais. Ainda somos os mesmos e vivemos. Apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos".

Bel, meu amigo Bel... que o outono movimente o vento e as folhas que levarão pelos ares sua poesia.

Coração sentido, triste! Bel, Bel.



27 de abril de 2017

minha mãe e ela nem sabe que tenho a mão dela comigo todos os dias.

"batatinha quando nasce esparrama pelo chão, mamãezinha quando dorme põe a mão no coração." (Minha mãe recitava esse versinho para mim milhões de vezes e me dava nó tentando entender a relação da batatinha com a minha mãe dormir e morria de medo dela virar batatinha. Foi um conflito a infância inteira. Ufa! Sobrevivi meio desconexa mas sobrevivi às batatinhas).

(Depois de marmanja as batatinhas voltaram, agora como batatas, embora também em letras literárias: "Aos vencedores as batatas". Continuei com o nó depois de um professor de metafísica sugerir a leitura do Quincas Borba. Ufa! Quase sobrevivi, porque em fato nunca mais tive sossego ao encontrar o casório safado que pula cerca para fazer bobageira: filosofia e literatura).

No imbróglio que é viver reduzi o consumo de batatas por excesso de agrotóxicos, e, filosoficamente tenho pensado que as batatas, agora incluídas como da terra no meu vocabulário, tem se esparramado sobremaneira nas antigas dúvidas de infância que nunca me deixaram.

e a gente vai indo, andante e caminhante, para onde?! para casa cuja arquitetura não tem projeto embora tenha um pé direito altíssimo que não sufoca.

(escutar Chopin enquanto estuda é sei lá um método complexo).


14 de abril de 2017

bordas flutuantes entre o cosmo e o interno

nas capitais as gírias me incomodam. nos interiores os regionalismos me assustam.
nas capitais as pessoas se comem, me repulsa. nos interiores se devoram, me sufocam.
nas capitais o tempo voa me faltando. no interior ele dilata me transbordando.
no cosmopolitismo a diversidade me diminui enquanto exalta o outro. no interior a tradição me anula diante do poderio dos costumes.
nas cidade grande as edificações me engolem. na cidade pequena elas se mostram mas não me convidam.
nas capitais por onde andei a comida era farta e tantos eram os caminhos que me emagreciam. nos interiores eram certas as culinárias, embora se faziam segredos familiares que não os meus.
de tudo aos meus limites serei atenta, embora e certa de que os zelos a mim escapam tanto quanto os espaços que me limitam.

(divagações de um almoço em Villejuif, 14/avril/17)