15 de maio de 2013

"Essa aqui vai para as coisas que não se realizam por excesso, para as coisas que não são por não terem cabimento.

Escrevi meu nome no sacrário que se encontra ao lado da geladeira e próximo aos pequenos frascos de remédio e junto a isso tem uma estante e sobre essa estrutura um espelho que reflete o rosto do homem com quem cotidianamente tu compartilhas o dia e faz coisas diferentes, como declamar o abecedário de trás para frente e eleger certas cores raras como suas preferidas.

O homem comum, o mesmo do espelho, não acreditava muito nos pensamentos e começou a listar. Passei o dia cortando passos, arrumando coisas, desfazendo nós, roendo as unhas, falando só, assistindo tv, descobrindo ruas, circulando mapas, fumando cigarros, trapaceando bandidos, viciando organismo, analisando sangue, regendo conflitos, adulando desejos, reinventando sonhos, evitando pânicos.

Destratou seus sentimentos como que pedindo benção a deus e ao diabo para driblar das culpas e entrou em casa. Deixou a arrogância lá fora descansando para beijar a juventude que dormia no sofá. Beijou-a e sua mão entrou tanto, tanto, tão longe que alcançou o coração do sonho, e ali teve a certeza que queria entrar no sonho por inteiro. Mas ela acordou e disse - que a organização é a maneira mais privilegiada de ser medíocre. O homem comum concordou enquanto retirava o seu braço ainda com o cheiro do sonho."

[narração final do poeta Zizo no filme 'Febre do Rato'... narração do excesso, em que mulher e juventude são elementos de uma guerra múltipla, particularizada e também coletivizada em poesia!]

foto: carol gomes ¬ ssa: porto da barra, maio 2013

3 de maio de 2013

Não quero me privar de ter no corpo marcas de vidas... nem tampouco quero tirar as olheiras que marcam meus olhos famintos pelo mundo.

Carol Gomes