28 de julho de 2014

agora escrevo com os olhos vermelhos de repulsa pelas relações ordinárias que tenho vivido nesse meu tempo. escrevo com autoridade de indivíduo que sempre, desde o sempre, gritou ao mundo sua paixão descontrolada pela vida, gritou ao mundo seu desejo pulsante pelos fluxos do existir. quem ama sente o sabor de ódio velando – amar e odiar, simultaneamente esse mundo, esse meu tempo cadavérico e repulsante.

aqui em fato há um pedido de socorro, um pedido de ajuda, porque não há mais terapia falante e silenciosa para tanto. não há mais força ativa para os ressentimentos desses dias secos e malditos que vou presenciando.

a imagem é mesmo essa, de um instante em atraso entre o que há e o que engulo do fora: olho para frente e fixando num espaço sem ponto, sem forma, sem matéria... enxergo na agitação das moléculas do corpo um rosto esvaecente, um rosto choroso, doído, como que recortado em sangue não vermelho, um sangue asqueroso, que causa uma atormentada repulsa. esse rosto não é o meu, nem o de ninguém, é o rosto maldito que jamais queria ver, mas que há alguns meses tem insistido em olhar por dentro da minha própria visão. é o rosto desse meu século XXI com brutalidades, amarguras, enrijecimentos e indiferenças! morremos, já estamos mortos!

Carol Gomes

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