12 de julho de 2014

a personagem dessa vez não estava em nenhuma passagem, nada de rodoviária, nem aeroporto, nem posto, nem cruzamentos; o ser estava escorado no corrimão olhando para sei lá quantos lados sem nada enxergar, a não ser, quem sabe, suas próprias divagações.

fixei o olho para adentrar naquele outro universo porque o meu naquele instante transbordava uma ansiedade infernal que antecede rotineiramente todo agosto.

pulava de um aos outros, dos outros aos uns, dos si aos mim. Um gole, uma descida, e eu junto naquele malabarismo silencioso. Não nos víamos, óbvio, pois naquela altura das luzes já nem se cogitava, cartesianamente, a existência: "vejo, logo mergulho".

e do nada, plim... o copo caiu e a palavra estrondou de um pandeiro perdido que sabe-se lá porque surgiu noteando harmonias.

o estrondo úmido trouxe um: Porra! Só isso, nada mais. Em seguida uma quentura catártica e uma vibração surgia desejando o grito da mudez que babava para tagarelar.

fala! fala! Aquele olhar trapeziante pedia, resmungava... e nada!

achei muito estranho, atormentador, fulgaz... e virei o rosto afastando. Na volta contrária do ângulo avistei um flash e vi o vulto... e sem controle umideci meu ver, porque no molde de um olhar alheio vi o rosto de um meu tormento que vai passeando sem lugar, sem portos e sem pontos.

Carol Gomes

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