13 de julho de 2014

das fomes, de leão e centauro

inesperadamente e na quase costumeira lentidão da percepção erótica, avistamo-nos! a ficha demorou cair, mas no treque-treque corporal a correnteza sanguínea atingiu picos selvagens com respirações muito além de ofegantes suspiros de 'querências mais'.

dias rápidos que presentemente somaram-se em minutos, ora longos ora brevíssimos.

sem muitas demoras cronológicas, mas uma eternidade na urgente necessidade faminta dos que salivam, retomei, por frações micro-invisíveis a percepção visual no som das águas de uma cachoeira que recitava o prazer. Não! muito mais, numa voz fortemente fluida, a cachoeira cantava um desejo surgido sei lá de que tempo ontológico que talvez deleuzeanamente um dia se compreenda, mas apenas um dia!

a boca mergulhava no corpo com vontade e singular fome. Bocas se encontravam nas línguas, macias e autoritárias, numa luta louca em navegante descoberta de um afeto silencioso e intempestivo. O sexo era afirmadamente a matéria, mas um encanto inexplicado era a condensação que movia e recortavam aquelas presenças esticadas em pedras, molhadas, cheias de folhas.

o diálogo silábico oportunamente era inexistente. Só havia um dialeto, o do corpo, que em algumas vezes permitia brechas para sussurrar algo quase nada entendível. Entender o quê?! o universo tinha traçados curvos, movente, correntes, tal qual as águas que rolavam.

a boca babava de vontade, a imagem inatual da leoa diante de uma presa doce, cujo olhar revelava discretamente um desejo tímido e nada dado às repressões do desejo. Aquela presa, em fato, torcia a fortaleza felina de experiências outrora construídas. No fluxo inclusivo de uma antropofagia orgiaticamente panteísta, a maciez devorou a fome predadora.

os cabelos migraram para os traços de uma natureza informe, cujos sabores múltiplos universais encontravam-se todos. Lambia-os, comia-os como linhas que se curvavam a um cheiro nada esquecido.

explorando-se desconhecidamente numa fome familiar, embora sem indícios, a boca subia e descia por um território úmido, leve e reciprocamente transbordante. Já não se sabia qual era qual umidade, das águas correntes e dos corpos explodindo. Os dedos passavam nas águas para adentrar à boca... nesse percurso mais e mais umedecia-se o devorar.

corpos nus com roupas que embora materializadas estavam totalmente inexistentes. Naqueles minutos, davam-se por inexistentes, ainda que adornando os corpos. Um corpo encontrado no outro. Um corpo afetado no outro. Sem normatizações e hierarquizações temporais, sociais, psicológicas, nem tampouco matemáticas, um e outro era o mesmo e tantos no desdobrar de múltiplos movimentos erguendo encaixes, quenturas, dobraduras moleculares e musculares, corporalmente do dentro e do fora.

dois humanos, de naturezas diferentes, tudo bem! mas dissolvidos numa animalidade crescente em eternidade de minutos embebedados de prazer puro, pureza erguida de fome, de tara, de um fogo heraclitiano in-semelhante.

o auge atingiu a temperatura ideal para estourar o termômetro... que explodido deu-nos os suspiros da retomada vivente. Voltem-se à quinta (feira)! e aí o universo das marcações espaciais os puxou à vida humana e os dias se seguiram.

por entre as veredas da singela cachoeira, os corpos seguiram juntos a trilha do retorno aos dias, de outro modo, para entradas distintas da bifurcação, quiçá, adentraram o leão e o centauro... cada um levando consigo suas fomes regidas por seus planetas: sol e júpiter. Juntos levaram o elemento que talvez os tenham lançado no encontro selvagem daquele dia: o fogo, elemento zodíaco das duas casas astrológicas, a quinta e a nona.

hoje olha-se para aquela imagem guardada em lembrança e vê-se uma cachoeira fluindo, com vida, com cheiro, cores, sabores e pulsões. Embreado como imperador da selva, segue o leão com sua qualidade fixa, amante da vida e decididamente faminto. Caminhante por cima das águas, segue o centauro (aquele de sagitário), com sua qualidade móvel, num humor despreocupado e decididamente livre.

separados? quiçá!
hoje, reencontrados numa imagem agora lançada a um tempo, prazerosamente, rememorado.
agora, perguntado: e isso existiu no tempo?!

águas de onze/junho/dois mil e quatorze (itba-mg)


seguiram-se, leão e centauro, ramos distintos da bifurcação (itba-mg/11.06.14)


"o que a vida mais preza: a certeza de ser fiel à própria natureza" (ao Sol de leão - itba/mg/10.07.14)

(carol gomes)


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