18 de agosto de 2009

É meu caro Proust, e quantas cidades erguemos no íntimo do nosso ser, ou melhor, dos nossos seres. Cidades estas que ao passo dos dias ampliam-se, multiplicam-se as esquinas, elevam-se potencialmente as ruas, surgem-nos arranha-céus, erguem-nos monumentos, além do quê, tantas outras edificações, tantas outras construções anunciam-se em ruinas... Eis que nos fica o movimento vivo da vida.
(...)
"E ainda hoje, se numa grande cidade provinciana ou em um bairro parisiense que eu mal conheça, um transeunte que "me mostra o caminho" me aponta ao longe, como ponto de referência, uma torre de hospital, um campanário de convento que ergue a ponta de sua torre eclesiástica na esquina de uma rua pela qual devo seguir, por pouco que minha memória possa, de modo obscuro, achar nele algum traço semelhante à figura amada e desaparecida, o transeunte, se se vira para se assegurar que não vou me perder, pode, para seu espanto, dar comigo, esquecido do passeio projetado ou do caminho a trilhar, ali parado, dante do campanário, durante horas, imóvel, tentando lembrar-me, sentindo, no fundo de mim, terras reconquistadas ao esquecimento, que vão secando e se delineando; e nesse momento, sem dúvida, e com mais ansiedade que há pouco, quando lhe pedia que me orientasse, procuro ainda o meu caminho, dobro uma rua... mas... do meu coração."
(Marcel Proust em No Caminho de Swann)
(...)
Proust, Sr. Proust, observo-te esses três pontinhos que antecede e que logo retornam a suceder o 'mas' e que no complemento encontram o coração.
Carol Gomes

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