15 de dezembro de 2010

À beira do pensamento

O indivíduo senta... e se lança no reflexo de si.

E aquela frase?: ‘como fere e faz barulho um bicho que se machucou’. Ou ainda a outra: ‘Será que é o trem que passou, ou passou quem fica na estação?’

A cabeça roda segura e lúcida, a recortar e reencontrar o recortado. Das cenas fixadas formata-se a cena presente. É isso, na película insignificante do dia o indivíduo não sujeito sentado à beira... o olho fixado no mais próximo horizonte, o do pensamento.

Do tal horizonte brotam-se texturas pinceladas numa grande tela: a vida. E essas pinceladas ressurgem gradativas e de um futuro acontecendo vestem-se num passado-presente, pois trazidas do anterior e puxadas do depois compõem o conjunto refletido.

O carro era branco no contraste com o olho verde. Surgia como tubarão no verde-marrom da mistura mato e barro. Olhava-se e o suspiro era de orientação, pois por vezes os indivíduos se confortam na submissão ao que se aponta para ser seguido. E isso não é ‘amarelo’, isso é momento de condição coletiva.

Subia um morro com caminho delimitado por eucaliptos; no pensamento a certeza que chegaria até a arquitetura colonial confiante de que o relógio seguraria os 60 exatos do que passou sem poder ter passado. Dez por cento do que passou foram suficientes para desfazer um intenso de busca, de crença. E então naquele que expressava o uso do gás rolou-se a ingenuidade da eterna criança, que ‘sempre’ confiante desilude-se com o não previsto.

No fim do corredor à esquerda, mineiros ao lado, no susto batem-se. Ora conhecia-se sem idêntico aquele olho, de onde? A memória não conseguiu buscar, mas o silêncio da razão emocionada intuiu o que no girar futuro confirmaria o esbarrão acidental, meramente acidental. Precisa-se que só apenas depois, bem depois os encaixes vagarosamente foram se dando, justamente porque no fim de tudo o grande foi o rasgado do bilhete a sustentar o endereço, carregado do reforço, mantemo-nos.

Engraçado como lá do alto do vigésimo primeiro menos a quarta parte do vinte subtraído o um, o olho a olhar, não menos que curioso se fez reflexivo. Como as cenas de um modista década de 90 com passagem envelhecida, abusadas as luzes meio laranjas da avenida, à frente o centro moderno comercial, e a condução no rol dos antigos a sair. Nisso a madrugada havia entrado com pressa, ainda que parada no sentido. E no pensamento: o que se faz?

De repente a cabeça ergue-se, o rodar retoma o probo e ciência de que ‘a lei te procura amanhã de manhã com seu faro’...

Carol Gomes

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