23 de outubro de 2015

das flores Lindinhas de um quintal

eu mexeria em todos os elementos do universo, da água aos pós energéticos para que jamais tivesse sofrido tanto naquelas gaiolas veterinárias.

te levei, te enterrei, às margens das águas correntes… 

meu modo de pedir desculpas por tê-la entregue a esse universo cruelmente humanizado.
desde que te mataram, sinto uma tristeza permanente, um corte rasgando… sem lugar, sem ânimo. não tem natação que anime, não tem filosofia que reinvente, não tem arte que recrie, não tem braço que acalme.

meu choro silenciado, triste, é de indignação, de impotência.

e seu eu tivesse mesmo um cajado, e se eu tivesse mesmo todos os anos milenares e todos os poderes velhos-ancestrais de oxalá, você jamais tivesse sofrido!

dos díspares encontros, tenho sentido imensamente saudade e falta da sua presença selvagem no quintal!

reinou por 6 anos, livre, sem tréguas para passarinhos, calangos, lagartixas… todo seu o reinado de um quintal.

pêlos amarelos, presas definidas, tamanho pequeno, olhos contornados naturalmente com lápis preto.
bom dias com arranhões vermelhos nas pernas, num indicativo simbólico de carinho, estabanado, por certo, dada a selvageria vira-lata dos carinhos afobados.

na 1ª parida, me esperou de viagem e na madrugada da chegada, lançou 3 filhotes no mundo, que como a linhagem vira-lata, logo seguiram rumo para as casas vizinhas.

nos dias tristes, de dores no corpo, chegava na ponta do pé, calminha, e do lado ficava o tempo todo. Estranha, mas, ternamente, um cuidado companheiro.

sem beijos, sem abraços, sem intimidades… amei tanto, cada qual no seu quadrado, você reinando no quintal e eu reinando noutro espaço.

sempre me enfureci contra qualquer violência, sempre briguei com família, vizinhos, desconhecidos. uma proteção recíproca.

na sua presença tinha tranquilidade para dormir, sabia da sua vigilância, dos latidos fortes, fêmeos e impositivos.

(Lindinha, vira-lata, saiu forte e brilhante para uma clínica veterinária, e de uma cirurgia simples de castração, morreu com paradas respiratórias, certamente causada por excesso de doses de sedativo e anestesias da medicina veterinária. Nenhuma explicação dos profissionais, só entregaram minha cachorra morta. Indiferença aos animais e modo brutal com que esse comércio de animais tem atuado).

Carol Gomes

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