22 de setembro de 2009

Então é Primavera...



Hoje não queria eu ter acordado para falar da relação primata do amor e sexo. Muito menos queria eu escrever sobre a posição quadrúpede ou ventral como conseqüência do poderio de um sobre outro. Ah, e como foi cansativo obrigar-me a discorrer sobre uma disfarçada exaltação da individualidade que na real das pretensões deseja a anulação do diferente... enfim, aborrecidamente concluí minha tarefa para logo entregar-me ao que para mim far-se-ia digno ao que o dia exige.


Eis que nos chega a Primavera, na suavidade relembrando o primeiro dia do Inverno que hoje se despede num dia maravilhoso e tímido de Sol, respeitoso com vento e chuva delicada. Naquele 21 de Junho dançante no espaço me chega como que por mágica um galho seco, a magia se fazia tanto pelo inesperado como que pelas contorções da folha no ‘galhinho’, parecia um encontro em si mesmo, as folhas abraçadas ao caule. Recordo bem ter me disposto à contemplação do galho seco durante dias, os minutos que se seguiam eram na certa como acompanhar um espetáculo de dança, ou ainda, a própria dança invisível da natureza... Eis que o Inverno não seria indiferente depois daquela recepção.


Crente que me assumo na linguagem invisível da natureza, tanto pela magia quanto pela sedução, recebo a Primavera não apenas pelo brilho com que as plantas nos saudarão nos próximos meses, ainda pela peculiaridade do colorido palpável da festividade natural e claro pelo colorido com que tantas pessoas se permitem disfarçadamente nessa estação.


O bom Manoel de Barros a traduzir num discurso de recepção as palavras enigmáticas dos que se entregam aos mínimos na busca de uma tal grandiosidade dos dias...


Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas
mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.



‘Para não dizer que não falei das flores’ fico com o presente da Primavera que ao acaso numa busca desinteressada lança aos meus olhos um novo-velho nome da poesia... Sophia de Mello Breyner


FLORES
Era preciso agradecer às flores
Terem guardado em si,
Límpida e pura,
Aquela promessa antiga
Duma manhã futura.

COMO O RUMOR
Como o rumor do mar dentro dum búzio
O divino sussurra no universo
Algo emerge: primordial projecto.



Sejam bem vindos... dias de Primavera!
Carol Gomes

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