12 de abril de 2011

escrito cansativo, não menos cansado

que tudo a ser escrito seja lido como não mais que exercício de descanso.

surpreendi-me vagante pensamentos à fora. questionei sobre os motivos pela filosofia, como seleção de algum modo autônoma ou como reação sabe-se lá do quê.

parece ‘bobalizante’ essa andança pela mente, vagante de um pensamento retalhado a outro custurado, mas não, no esquentar da temperatura sabia eu o quanto me seria cara essa brincadeira.

em pleno estourar limítrofe de amor por um nome da história da filosofia, apontar este mesmo nome como culpado pelo labirinto na disposição do pensar, certamente não é menos que incriminá-lo por ‘desregrar’ uma mente ingenuamente humana.

sim! é a famosa e conhecida crise com o filósofo estudado. que diabos fui me enfiar com esse francês? falsário, seqüestrador, filósofo menor, metafísico artista, jogador de dados, capitão baleia, vivente da vida... por que não me satisfiz com o grego que ainda me cutuca pela eleição dos diálogos? oh não! onde me meti.

depois desse menor, que como feitiço, possui, que como líquido, sacia a urgência da boca seca, que como cheiro, entra pelas narinas direto para o cérebro e altera o sistema nervoso... enfim, que como letras registradas ressoa uma música deliciosamente ensurdecedora, me adulterei numa aparição que já nem mesmo sei.

cadê meu sossego? cadê meu fascínio pela boa vontade da filosofia? desacreditei... algumas tantas máscaras rolaram, ele mesmo por vezes as recoloca, mas bem é que rolaram. e como posso tanto? sentir dolorido e continuar a ‘desejar’.

que o francês tenha figurado o alemão como o jogador mestre dos dados, tomo como aprendizado do acervo de ensinamentos, embora a espontaneidade da minha ‘persona-existir’ não consiga digerir o desvelamento de que a existência seja dor e contradição. explode um grito cansado, doído, primitivamente doído: não! não pode! não quero! eis o par: poder-querer. já deveria eu ter alterado para querer-poder?

na construção das frases que reunidas viraram obras estranhamente deliciosas de serem lidas, maravilho-me com as palavras escolhidas, com as orações selecionadas, com o silêncio de uma letra a outra, embora no ponto final de um parágrafo, por vezes longo, eu sinta uma pausa na respiração. claro! é lindo, prazeroso, mas é também, e sobretudo, ‘esfaqueante’. parece-me que seja como mostrar um rx do que até então era invisível, um rx anos luz à frente de uma cópia qualquer do que está posto e não se vê, é antes um rx que mostra o ‘imostrável’, o que não se vê e nem se enxerga. como posso ver tal figura ‘rxzada’ e haver de construir a vida nela e dela mesma?

eis a pergunta que vai ao âmago, que já sei lá se existe isso em mim. como construir depois de visceral rx?

conjunto de confusão a ansiar por escritos que chegarão trazendo descanso... assim esperança parece-me habitar.

enquanto tateante vou-me indo pelas páginas, permito o descanso no diálogo com os pares que por vezes concedem breves momentos de agitação desinteressada. como foi fármaco escutar, daquele que também como eu tem problemas espectrais a lhe rondar, que gostar ‘daqueloutro’ dos cabelos grisalhos é gostar antes de flauta, é gostar antes de blues. partilha que me tirou daquela andança vagante e dolorida ao lançar-me na reafirmação de que a voz a habitar o corpo dos cabelos grisalhos é uma cantiga de letras literárias...

e por hoje, por mais hoje, quero habitar o onírico ao som das grisalhas canções daquele que cantarolou a vida ao som dos bandolins... para mim, não menos distante do que escreveu dançante a alegria da vida nela e por ela, apesar da dor e da contradição.

Carol Gomes

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