25 de novembro de 2009

Adendos Mentirosos...





Queria ter a coragem artística de negar o real, no entanto me pego diariamente escrava dele.


O enigma da vida é saber da morte e não compreendê-la; disse o alemão. Será ele conhecedor de que tão ou mais enigmático é saber da vida e sequer entendê-la?


O silêncio como coisa por vezes é calmante, noutras é diabólico porque encontra o silêncio como sujeito.


Impotência presidiária não seja a constatação da inferioridade da ação em referência ao pensar?


Por vezes a ausência de magia do real impõe-se como obrigação para sua reinvenção diária.


Que doença é essa de querer arrancar sempre significados invisíveis de tudo e todos?


Nada mais lúcido revelar a igualdade da borboleta com a flor.


Nada mais lúdico revelar que um mais um são dois.


Atrás de uma porta há sempre o incerto, daí o sentido das fechaduras; assim elas não abrem sozinhas e apenas quando se necessita de abalos.

Carol Gomes

2 comentários:

  1. "Que doença é essa de querer arrancar significados invisíveis de tudo e todos?"

    É talvez, essa doença, aquela que nos faz livres ou não, que nos permite alcançar o que Espinosa nos quis mostrar, que tentamos muitas vezes tomar a afecção pela coisa. Mas fica a pergunta ainda, o que é a coisa? E será que não seriam somente as afecções, aquelas responsáveis por nos fazer ver imediatamente aquilo que deixamos passar desapercebidos pela racionalidade excessiva, ou pelo excesso de devaneios? Mas não é a união da mente com a natureza que quero, talvez o que eu queira seja tomar a coisa no momento, a coisa como o invisível que se mostra visível somente naquele momento... porque então tentamos passar invisíveis por um visível que nos mostra tão evidente, tão intensificado... Então na verdade estariamos tentando fugir da afecção que se mostra como coisa de uma narrativa-narração viva... Venha então, coisa invisível visível, e entre dentro de nós e nos possua como um espírito eólico, nos deixe acreditar que a afecção visível e invisível é o momento... e nos deixe acreditar, ao contrário de Proust, que os momentos primitivos e singulares podem se mostrar para nós mais de uma vez...
    Aristóteles, chamava, para Deleuze, "reconhecimento, o momento em que a representação e a repetição se misturam, se defrontam, sem contudo, haver confusão entre dois níveis, um refletindo-se no outro,nutrindo-se do outro, sendo o saber então, reconhecido como o mesmo,seja enquanto representado na cena,seja enquanto repetido pelo ator." (diferença e repetição)

    Sejamos então atores que abrem seus teatros para o invisível visível, reluzente em neon, em um teatro da repetição, diferenciada, sempre, no mesmo emanação, que nos traz de novo para a escavação de sítios não totalmente explorados...

    Abraços

    Eduardo Arantes

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  2. Eduardo meu caro amigo, precisamos escrever mais vezes juntos, como aquela última escrita conjunta no guardanapo da lanchonete...

    Deleuze, entre tantas curvas da vida, vai falar num tal 'Sol da meia noite', eis que me parece a temática da doença postulada nos Adendos Mentirosos... Aquela conhecida questão entre dormir ou passar a noite na vigília, qual será o pior pesadelo? Talvez seja providencial, momentaneamente nos perguntarmos que fome insaciável nos movimenta diariamente para escavações. Além do quê meu caro, talvez seja preventivo dizer a nós mesmos que nem tudo está para ser escavado, principalmente porque se escavamos tudo, incorreremos inclusive num provável equívoco de escavar as próprias bases. Nesses dias tenho me perguntado sobre a lucidez da vida; eis que me aparece uma amiga e pergunta sobre o Amor, eu, totalmente cega, despejo inúmeras referências teóricas sobre o Amor, então ela na mais singela e providencial objetividade me esfaqueia: Não quero teoria do amor, não quero saber o que é o amor, quero conhecer o amor (por aí as palavras dela). Sabe qual ensinamento disso meu amigo? Que a vida talvez nos ensine violentamente (Proust-Deleuze) que tantos momentos estão para serem vividos sem maiores elaborações, posto que a loucura decorre de fazer de certas referências verdades imperativas que aprisionam.

    Desconfio que a dificuldade da questão seja justamente depois de iniciada a primeira escavação, o retorno ser tão ou mais penoso que permanecer, aí talvez seja possível ampliar o que chamei de doença. Objetivamente talvez seja: é possível depois de uma fissura deleuzeana virar-se contrário ao invisível que tagarela? Ainda, qual o limite da invisibilidade querida?

    Abraços meu amigo.
    Carol

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