17 de junho de 2015

Frio e Calor, uma quentura

Hoje quero escrever para o convívio dos últimos dias. Uma convivência estranha, forçosa e que tem me levado ao limite das forças.
É o Frio. Sim, ele bateu! Mas por que?
Um corpo cujas tatuagens são todas de quentura... tatuagens quentes da capital cearense, passando pelo cerrado central goiano ao cerrado mineiro triangulino. Um corpo cujas escolhas literárias e filosóficas passam recorrentemente por zonas temperadas que destacam com insistência quenturas em palavras.
Ora, o que fazer com esse Frio?
Por onde e como adentrá-lo para atingir sua região calorosa?
Sempre há o aquecido, mesmo no mais rigoroso dos tempos morbidamente gelados.
A mão já não sai debaixo dos tecidos para escrever nem uma letra. O pensamento insiste com vontade na continuidade das leituras, mas vai cedendo a cada queda no termômetro.
Inegavelmente há diferença nas escritas em acordo com forças térmicas que nos rondam.
O desafio mais problemático se impõe na busca por um fiasco de momento em que a indeterminação seja tão plena que Frio e Calor se encontrem num imbróglio indissociável, e, assim, um e outro se comam antropofagicamente.
São personagens distintas. O Calor te exige nu, aberto, suando. O Frio te exige excessivamente vestido, fechado, seco. O momento do encontro se dá duplamente: no banho e no chá, para um, água fria, para outro, água quente.
Sim, sinistro. O Frio pede a todo momento um banho Quente. O Calor pede um banho Frio. Fiasco da indeterminação?! Ambos lhe pedem justamente o que não tem para que sorrateiramente se encontrem.
O chá do Frio é obrigatoriamente quente, daí gengibre e canela. O chá do Calor é por sobrevivência Frio, daí o capim cidreira com limão gelado.
Frio e Calor não expressam uma relação dialética, se dão justamente na afirmação um do outro... é absurdamente chocante! O Frio afirma o Calor a cada vez que se mostra mais Frio.
Já não mais sei... e enquanto tal, o corpo vai virando e se revirando como que deitado numa pedra de gelo que queima como que sendo fogueira!
(para os dias em que Curitiba me deu 1° grau e meu corpo sofreu)
Carol Gomes

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